Por Augusto Nunes - Veja Online
Só sente compaixão por Dilma Rousseff quem não tem pena do Brasil.
A última criação coletiva dos jornalistas federais é um monumento à inventividade: quem ganha por larga vantagem um debate na TV sai perdendo. Os doutores em urna descobriram que o brasileiro, sempre emotivo e generoso, sente pena de quem leva muitas pancadas verbais num estúdio e se solidariza com a vítima. E concluíram que José Serra, no confronto desta quinta-feira, deve mostrar que é melhor que Dilma Rousseff – mas não muito. O candidato do PSDB só terá salvação se não perder o debate na Band, ensinam. Se não ficar evidente que é o mais preparado para governar o Brasil, perderá a eleição. Mas também perderá a eleição se ficar evidente que é muito mais preparado. Só chegará ao Planalto, portanto, se descobrir como vencer um duelo sem que o oponente pareça vencido demais. Não é pouca coisa.
Dilma Rousseff nunca foi candidata a nada e vai participar de um debate pela primeira vez. A bisonha principiante interrompe frases no meio, vive se perdendo na selva das reticências, despeja cataratas de platitudes, não sabe rimar gesto com voz, recita banalidades com cara de quem revela o Décimo Primeiro Mandamento e é frequentemente indecifrável. Cita Lula de dois em dois minutos, celebra obras imaginárias, promete o que não cumprirá, enxerga colossos moderníssimos onde não há sequer canteiros de obras.
Arbitrariamente imposta por um presidente interessado em eleger uma nulidade, a candidatura de Dilma é um salto no escuro em péssima companhia. Ela jamais abjurou a opção ideológica feita na juventude. E tem uma folha corrida atulhada de zonas cinzentas. Os jornalistas federais acham que, se tudo isso for claramente demonstrado por Serra, Dilma sairá ganhando. Quem vê as coisas como as coisas são sabe que um debate é uma luta de boxe em que se usa a voz em vez das mãos e só são permitidos golpes retóricos. Cumpre a Serra tomar a iniciativa, atacar com força e precisão, esquivar-se com agilidade, levar a adversária às cordas e escancarar a superioridade. Ganhar por pontos estará de bom tamanho. Por nocaute, melhor ainda.
Se a Teoria do Derrotado Vitorioso não fosse apenas outra malandragem oficialista, Serra poderia sair da Band direto para a festa de posse já nesta noite. Basta baixar a guarda, permitir que Dilma use à vontade todos os golpes baixos e, terminado o confronto, cair no choro. Como não se parece em nada com o cretino fundamental de Nelson Rodrigues, o ex-governador paulista saberá como agir. Lula forjou uma fraude para ser substituído pelo nada. Acabou oferecendo ao inimigo a adversária que todo candidato pede a Deus. Que Serra saiba cumprir seu dever.
Só sente compaixão por Dilma Rousseff quem não tem pena do Brasil.
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