Uma colagem surrealista

Por Augusto Nunes - Veja Online
Aprisionado pela legislação brasileira, algemado por marqueteiros e empobrecido pelo amadorismo, o horário eleitoral na TV lembra uma fusão amalucada de cenas subtraídas de filmes de época, documentários mambembes, comédias non-sense, gravações de concursos de poesias colegiais, chanchadas sem graça e bem acabados comerciais de margarina. Sem que o espectador entenda direito o que está acontecendo, aparecem em sequência, por exemplo, um comunista do começo do século 20, um candidato sem chances que há 20 anos repete a mesma frase, um humorista que se trata como piada, uma antiga garota da capa que apresenta o marido mudo e, no meio do cortejo de espantos, três produtos apresentados com requintes de Primeiro Mundo. Os três tão à vontade quanto estaria Osama Bin Laden declamando a Declaração dos Direitos Humanos.

José Serra, para aproximar-se da gente humilde, virou Zé. Marina Silva, para não parecer tão gente humilde, vestiu um figurino de grife. Dilma Rousseff, para aproximar-se da gente humilde, virou risonha desde criancinha. (E, para distanciar-se da verdade, também virou uma flor de simpatia desde a mocidade e democrata desde o útero). Pelo resumo biográfico do programa de estreia, são três provas irrefutáveis de que a vida vale a pena. Pelo que viram os telespectadores, o elenco inteiro do primeiro dia é uma prova definitiva de que está na hora de rejuvenescer a legislação, melhorar a cabeça do eleitorado, filtrar com mais apuro todos os candidatos e introduzir o Brasil no século 21.

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Comentário: Hoje assisti o MOBRAL da POLÍTICA. Passei o dia inteiro pensando sobre o desfile de candidatos no horário eleitoral. Guardadas algumas diferenças que destoam do desfile, têm para todos os gostos: mulher pêra, mulher melancia, mulher idiota, mulher oportunista, mulher tico-tico, malandros falando em combate à corrupção, com dentes, e sem dentes, analfabetos falando sobre a educação, cara "redonda" com olhar malandro e com "jeitão" de estelionatário, falando em rigor das leis, palhaços de circo ironizando às instituições, desempregados querendo arrumar uma “boca” no estado, sabichões que blasona de sábio com discursos patrióticos e donos da verdade, alguns deles com fisionomia de louco, pedindo internação urgente.

Enfim, o tempo inteiro eu vi a "foice e o martelo" estampados ao fundo vermelho - que representa o sangue. Olha, é desolador e trágico ver que, a maioria saiu de algum buraco para disputar a primeira fileira na política, e outros já encheram os bolsos às custas da mentira. Quando aparecem os candidatos do PSDB e as siglas que apoiam a candidatura do José Serra, dá a impressão que você entrou em outra dimensão, menos densa. Fiquei por alguns instantes achando que estava vendo a decoração interna do inferno, e ouvindo seus interlocutores partidários oferendo o que há de mais primitivo no mundo.

Deus nos acuda! Deve dar vergonha em muitos candidatos preparados em POSAR ao lado da escória humana, oferecendo mandiocas e bananas para o plantio. Tivemos de tudo, menos capacidadeinteligência com raras excessões. Nunca antes neste país, vimos um quadro político com tamanha decadência e empobrecido de conhecimento. Movcc/Gabriela

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