Por Franklin Jorge
A violação do sigilo fiscal de Verônica Allende, filha do presidenciável José Serra, é um fato gravíssimo que expõe a instrumentalização de uma instituição até então respeitável – a Receita Federal -, usada com fins políticos supostamente para favorecer a candidatura governista, segundo a suspeita cheia de olhos que paira no ar.
Para muitos, é a prova cabal do aparelhamento do estado por um partido que já deu provas suficientes de que a sua ambição de poder não conhece limites e por isso recorre a expedientes que lembram práticas fascistas de triste memória, como a invasão da privacidade dos cidadãos, impotentes e apreensivos diante desse clima de insegurança que contamina a sociedade brasileira.
Esse episódio é, em sua magnitude significativa, semelhante ao “Mensalão”, porém mais grave e passível de consequencias imprevisíveis, pois atinge diretamente todos os contribuintes brasileiros que declaram Imposto de Renda. E, além do mais, aponta para a instalação de um estado policial que espiona e usa informações sigilosas para pressionar e amedrontar adversários. Uma prática inteiramente descartável, num regime verdadeiramente democrático, que por sua natureza deve contemplar a pluralidade e a liberdade de opinião, respeitar e defender os cidadãos contra o arbítrio.
Não é o caso do governo petista. Já em diversas ocasiões, o presidente Lula tem deixado claro que não suporta conviver com o contraditório e tem ensaiado medidas discricionárias capazes de nos deixar de cabelo em pé. Quem não se lembra da ameaça de expulsão do jornalista norte-americano Larry Rohter? E tudo porque o correspondente do jornal The New York Times no Brasil escreveu numa reportagem que o presidente Lula bebia demais e se apresentava sempre com as bochechas vermelhas, como qualquer papudinho do Beco da Lama…
De lá para cá, o presidente Lula tem feito várias tentativas para amordaçar a imprensa através de normas que configuram a natureza totalitária do seu governo. Ninguém ignora que Lula que tem confraternizado com ditadores como Fidel Castro, Ahmadinejad e Hugo Chávez, e com as Farc, uma força pseudo-revolucionaria que se mantém às custas do narcotráfico internacional. Nossa sorte é que o presidente sempre se acovarda quando encontra resistência ao seu apetite pelo poder absoluto. Reincidente em seu afã de censurar a imprensa, tem sofrido o repúdio dos brasileiros que, mal saídos de uma ditadura que durou 21 anos, têm se mostrado desconfiados dos regimes de mão única.
Talvez por isso, a tática adotada pelo governo petista não apela diretamente para certos procedimentos que caracterizaram a ditadura militar que conhecemos, como a violência física, os interrogatórios, a tortura física e psicológica, e os atentados como o do Riocentro, no qual morreu um oficial da Aeronáutica quando tentava plantar uma bomba no shopping para incriminar adversários políticos do regime de exceção.
O atual governo aprendeu a lição e adota uma outra estratégia que não desperta suspeita e tem passado despercebida da maioria. A bossa, agora, é tomar o poder absolutamente, mas de outra forma, sem derramamento de sangue, ou seja, de maneira subreptícia e dissimulada, através do aparelhamento do estado. Não admira, pois, que tenha o presidente infestado as repartições de cargos comissionados que constituem, em verdade, uma espécie de policia secreta de um governo que dispõe, por outro lado, de uma farta provisão de larápios e operadores de um sistema capaz de recorrer aos métodos mais questionáveis, como violar o sigilo fiscal dos adversários, desmoralizando uma instituição como a Receita Federal, até então considerada um bastião da confidencialidade.
Não surpreende, assim, a qualidade moral dos que o cercam e bajulam, entre os quais dois ex-presidentes malvistos pelos brasileiros decentes, José Sarney e Fernando Collor, que num passado recente usou dos mesmos métodos agora aplicados contra José Serra para desmoralizar e derrotar em 1989 o atual presidente, então seu principal adversário no embate eleitoral. Quem não se lembra da revelação feita por Collor de que Lula tivera uma filha fora do casamento e instara a mulher a cometer aborto, para livrar-se da responsabilidade de alimentar e educar o fruto do seu prazer, como qualquer pai cônscio de sua responsabilidade?
O Brasil vive atualmente, no âmbito político, um dos momentos mais críticos de sua história. Sob o comando do governo petista, chegamos a uma encruzilhada que não prenuncia nenhum bem. Um momento sombrio e inquietante que me faz lembrar das palavras do escritor francês Georges Bernanos, que se refugiou do nazismo numa fazenda mineira e aqui escreveu algumas de suas obras capitais. Como um profeta do nosso tempo, pode o autor de “O grande medo dos bem-pensantes”, de “A impostura” e de “O escândalo da verdade” refletir sobre o Brasil e afirmar que somos um grande povo, porém fadado a um futuro sangrento.
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