Em outubro de 1990, o presidente Fernando Collor valeu-se de um emissário para induzir a Petrobras a emprestar US$ 40 milhões à Vasp, empresa aérea comprada no mês anterior pelo amigo Wagner Canhedo. Deu tudo errado. Pressionado por Paulo César Farias, o presidente da estatal, Luiz Octávio da Motta Veiga, demitiu-se inesperadamente e denunciou o cerco movido pelo tesoureiro do chefe de governo. O escândalo se transformaria na primeira estação do merecido calvário que desembocaria no impeachment.
Passados 20 anos, o senador Fernando Collor voltou à ação no local do crime não consumado, agora para forçar a estatal a emprestar R$ 200 milhões ao usineiro alagoano João Lyra, ex-senador e pai de sua cunhada Tereza Collor. Para abrir o cofre que PC não alcançou pela rota dos porões, Collor dispensou-se de cautelas e foi à luta pessoalmemente. Entrou pela porta da frente, e levando a tiracolo o empresário de estimação beneficiado pela bolada. Desta vez deu tudo certo.
Numa nota publicada em agosto no seu blog no site de VEJA, o jornalista Lauro Jardim resumiu o show de atrevimento: “O candidato a governador Fernando Collor exigiu ─ repita-se: exigiu ─ que a diretoria da Petrobras Distribuidora assinasse um contrato de vinte anos para a compra de etanol das usinas de João Lyra. Alguém aí acha que Collor foi posto para fora ? Nada disso. Não conseguiu um contrato de décadas, mas arranjou um de quatro anos, cerca de 200 milhões de reais”.
Nesta semana, o Brasil soube por que Collor se sente em casa na Petrobras Distribuidora: foi ele o padrinho da nomeação de José Zonis para a Diretoria de Operações e Logística. Desde o ano passado, o ex-presidente despejado do Planalto por ter desonrado o cargo não precisa designar algum homem de confiança para missões de grosso calibre na maior das estatais. Tem um representante com direito a gabinete, cafezinho e canetas que formalizam a liberação de empréstimos.
“Isso é uma tremenda maracutaia”, berrou em 1990 Luiz Inácio Lula da Silva, ao saber que Collor tentara abrir para um empresário amigo o cofre da Petrobras. Em dólares, a montanha de cédulas capturada em agosto deste ano é equivalente à perseguida sem sucesso há duas décadas. Mas o presidente que abandonou o emprego para virar animador de palanque não viu nada de errado. Maracutaia que beneficia companheiros é um negócio como qualquer outro, ensina o Mestre. E Collor virou amigo de infância.
O que pensa da pilantragem a candidata Dilma Rousseff, sempre com a mão no coldre para defender o símbolo nacional da cobiça dos inimigos da pátria e seus sócios estrangeiros? O neurônio solitário ainda ensaia o que dizer. José Sérgio Gabrielli, ao contrário de Motta Veiga, engole o que vier pela proa para manter o emprego. Não há ofício mais gratificante que prestar serviços à nação numa estatal fora-da-lei. O presidente da Petrobras só saírá do gabinete na traseira de um camburão.
Aparentemente ilógica, a parceria entre os candidatos que trocaram chumbo na guerra suja de 1989 nada tem de surpreendente. Escancarado pela grossura explícita, o primitivismo de Lula pode ser visto com nitidez por trás do falso refinamento de Collor. Escancarado pela arrogância de oligarca, o autoritarismo de Collor é perfeitamente visível por trás do paternalismo populista de Lula. Os dois são, em sua essência, primitivos e autoritários. Nasceram um para o outro.
3 comentários:
sinistro!
Bota sinistro nisso... uma verdadeira bandidagem descarada!!!
bota sinistro nisso... uma verdadeira roubalheira deslavada, essa bandidagem não tem geito mesmo!!!
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