Por Augusto Nunes - Veja Online
A Procuradoria Regional Eleitoral finalmente o endosso da Justiça paulista para zelar pela imagem da Casa do Espanto: o humorista Tiririca, deputado federal eleito pelo PR de São Paulo, só poderá instalar-se num gabinete da Câmara se provar que não é analfabeto. Num dia qualquer de novembro, diante do juiz, do promotor e do seu advogado, Tiririca terá de escrever um ditado e ler em voz alta um trecho da Constituição. Se não fizer bonito no teste de escrita e leitura, mais de 1,3 milhão de eleitores ficarão sem representante no Congresso.
A exigência confirma que o País do Futebol valoriza o secundário tão aplicadamente quanto ignora o essencial. Se as arquibancadas do Maracanã descobrirem que o juiz é ladrão, será imediatamente implantada e cumprida a pena de morte na forca. Mas Erenice Guerra pode continuar frequentando sem sobressaltos o supermercado da esquina. Se a camisa 10 da Seleção for entregue a um Obina, não escaparão do linchamento o técnico, o presidente da CBF e o atacante trapalhão. Mas Lula pode contar com o apoio de milhões de torcedores para entregar a Dilma Rousseff a faixa presidencial.
Coerentemente insano, o país que acha muito justo o vestibular imposto a Tiririca é governado há oito anos por um sessentão que jamais leu um livro, não sabe escrever, orgulha-se da formação indigente, recusa-se a estudar e zomba de quem diplomas preenchidos em outros idiomas. Ainda bem que Lula não é deputado. Submetido ao mesmo teste reservado ao humorista, o animador de comício seria um forte candidato ao naufrágio.
Os dois únicos manuscritos produzidos nos últimos 20 anos informam que o maior governante desde as caravelas não teria sobreviveria ao teste do ditado. O que Lula tem feito durante a campanha eleitoral confirma que nunca leu sequer uma linha da Constituição. Tiririca teria chances maiores na prova oral. Além da selva de expressões em juridiquês castiço, Lula enfrentaria a selva de algarismos romanos plantados à frente dos incisos. Provavelmente enxergaria no VI, por exemplo, um derivado do verbo ver. Se o trecho sorteado fosse o assinalado na ilustração, o presidente veria o mar territorial.
O erro de Tiririca foi disputar um lugar no Congresso. Se fosse eleito presidente da República, estaria agora se preparando não para um teste de alfabetização, mas para a festa da posse. Ou, quem sabe, escrevendo o prefácio do próximo livro do companheiro Aloísio Mercadante.
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