Por Vera Rosa, Renato Andrade / BRASÍLIA, estadao.com.br
“Reação. Dilma com Ciro Gomes em Brasília: ofensiva de aliados para impedir sangria de votos após polêmica sobrw aborto”
A estratégia traçada pelo comando da campanha de Dilma Rousseff (PT) para recuperar os votos perdidos após a polêmica sobre o aborto prevê um discurso de ‘valorização da vida’ por parte da candidata do PT à Presidência. O novo tom aparecerá na reestreia do programa de TV de Dilma como um antídoto contra o aborto.
‘Eu considero muito importante afirmar que o meu projeto, que foca nas pessoas marginalizadas, é a favor da vida’, afirmou Dilma, ontem. ‘Eu sou e sempre fui a favor da vida. Se não fosse assim, não tinha colocado a minha vida em risco em determinado momento’, emendou, numa referência à luta travada por ela contra a ditadura militar.
Ex-militante de organizações de extrema-esquerda, Dilma foi presa em 1970 e ficou três anos detida, em São Paulo. O tema foi tratado no primeiro programa de TV da candidata como uma espécie de escudo contra os previsíveis ataques à sua participação em grupos que pregavam a luta armada. Agora, ao repetir que é a favor da vida, Dilma também quer criar uma vacina no novo horário eleitoral, com reestreia prevista para sexta-feira.
Desde a última semana de campanha, no primeiro turno, a candidata do PT tem reiterado que é contra a legalização do aborto, na tentativa de estancar a sangria de votos entre cristãos. No último dia 29, ela se reuniu, em Brasília, com líderes católicos e evangélicos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a gravar um comercial dizendo que Dilma estava sendo vítima de mentiras vindas do ’submundo da política’. Agora, a estratégia consiste em tratar o assunto pelo lado da família.
‘Nós não vamos ficar reféns de uma falsa polêmica, levantada de maneira pouco ética por nossos adversários e disseminada de forma insidiosa’, disse o secretário-geral do PT, José Eduardo Martins Cardozo (SP), um dos coordenadores da campanha.
Depois de se reunir ontem com os governadores Eduardo Campos (Pernambuco), Marcelo Déda (Sergipe) e Cid Gomes (Ceará), todos reeleitos - além do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) -, Dilma seguiu o conselho dos aliados e destacou que vem ‘de família católica’.
O capítulo ‘família’ também reaparecerá no programa de TV da candidata, na tentativa de amenizar sua imagem. Ao fazer uma conexão entre o projeto de erradicação da miséria com a valorização da vida, Dilma expressou, mais uma vez, sua felicidade com o nascimento do neto, Gabriel, batizado na última sexta-feira. Em várias reuniões ao longo dos dois últimos dias, com Lula e Dilma, governadores da base aliada também foram incumbidos de procurar bispos e padres para reverter a onda contrária a Dilma na Igreja Católica.
‘Eu acho que é preciso esclarecer os segmentos religiosos que estão em dúvida’, admitiu o governador Eduardo Campos, que porá em prática a estratégia, hoje, ao participar da posse de um bispo na cidade de Salgueiro (PE). ‘Eu mesmo perdi votos entre evangélicos do Rio de Janeiro por estar apoiando Dilma’, disse o senador eleito Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. ‘É bom, agora, termos mais tempo para mostrar que Dilma é contra o aborto.’
Embora o 3.º Congresso do PT tenha aprovado, em agosto de 2007, resolução defendendo a descriminalização do aborto, o assunto nunca constou do programa de governo de Dilma. Em fevereiro, ao aprovar as ‘diretrizes’ da plataforma da candidata, o 4.º Congresso do PT incluiu o ‘apoio incondicional’ ao polêmico Programa Nacional de Direitos Humanos. A terceira versão do documento indicava apoio ao projeto de lei que torna o aborto legal. O tema, porém, acabou excluído das diretrizes petistas.
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