Uma tragédia como a da região serrana do Rio iguala ricos e pobres na dor, nas perdas, no desamparo. Os únicos que ficam imunes são os plantonistas do bem.
Esses já sabiam de tudo. Estava na cara. Enquanto todos se deprimem, eles se agigantam, desfilando sua indignação triunfal contra tudo isso que aí está.
Omissão, incúria, cinismo e, é claro, falta de vontade política. Os culpados pela tragédia são prontamente carimbados com todos os lugares comuns da vilania.
Os plantonistas do bem sabem quem são os culpados. São, em primeiro lugar, os governantes – esses seres insensíveis que não tiraram as pessoas do caminho da enxurrada.
No clima da contagem de corpos, os governantes irresponsáveis logo viram assassinos. Para que economizar?
Deviam estar todos na cadeia. A começar pelos que deixaram a cidade de Friburgo ser erguida onde foi. A julgar pelo alcance dos estragos ali verificados, quem estava em área de risco era a cidade inteira.
Como ninguém notou isso em quase 200 anos?
Quase ninguém. Os plantonistas do bem sabiam de tudo.
Em segundo lugar, a culpa é dos políticos. Sempre eles. Dentro ou fora dos governos, convencem cidadãos inocentes a lhes darem seus votos e desaparecem na primeira chuva.
Em terceiro lugar, a culpa é do aquecimento global – isto é, do capitalismo.
Definido o ranking de culpas, os virtuosos, que não têm nada com isso, podem sair por aí apontando o dedo para os vilões e praticando o doce esporte da indignação a fundo perdido.
Os críticos permanentes do sistema estarão sempre com a cabeça fora d’água. É o único lugar realmente seguro do planeta.
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