A comparação entre o ex-Vicente, sindicalista, e o atual, deputado governista, impõe à situação uma certa ponderabilidade irônica.
Como a do sujeito que, depois de passar anos como empregado, torna-se patrão. E vê-se compelido a lidar com as limitações do balanço.
Claro que a situação é diferente. Vicentinho (PT-SP) não virou empresário. Apenas cumpre a missão de defender a higidez do Orçamento da República.
Porém, o país estava tão habituado a associar o PT ao aplauso dos trabalhadores que a imagem de Vicentinho sendo vaiado injetou na cena um quê de nostalgia.
Escalado como relator do projeto que fixa o salário mínimo em R$ 545, Vicentinho manteve intacto o texto recebido do Planalto.
Ao ler o parecer em plenário, o ex-presidente da CUT foi vaiado pelas galerias, apinhadas de “trabalhadores”.
Na tribuna oposta, supremo constraste, deputados tucanos e ‘demos’ arrancam aplausos ao defender cifras maiores –R$ 560 ou R$ 600.
Numa tentativa de atenuar o sinal dos tempos, Vicentinho buscou lenitivo para a alma num detalhe.
Disse que os representantes da CUT não estão na galeria. As vaias vieram de manifestantes arrebanhados pela Força Sindical.
Segundo Vicentinho, seus companheiros de sindicalismo, do ABC paulista, defendem a manutenção do acordo firmado por Lula com as centrais.
Um acordo que, reproduzido no projeto de Dilma Rousseff, fixa as regras para os reajustes futuros (inflação mais o PIB dos dois anos anteriores).
"Meu compromisso é com o trabalhador”, disse Vicentinho.
“Tenho certeza que as vaias de hoje vão se transformar em aplausos em janeiro do ano que vem, quando o valor [do mínimo] vai chegar a mais de R$ 600".
Pseudogovernista e suposto defensor dos humildes, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, sapateia sobre a lógica matemática de Vicentinho.
Desfila pela Câmara com uma réplica aumentada da moeda de R$ 0,50. É quanto o trabalhador receberia a mais, por dia, caso fosse aprovado o mínimo de R$ 560.
Um acréscimo mensal de apenas R$ 15, eis o que defendem, em sacrossanta generosidade, Paulinho e os neoalidados da oposição.
Ônix Lorenzoni (DEM-RS) levou à tribuna uma foto do passado. Na imagem, petistas históricos protestam contra a projeto de FHC que elevava o mínimo em R$ 15.
“Estão aqui o Ricardo Berzoini, o Antonio Palocci, o Aloizio Mercadante”, disse Lorenzoini, expondo a fotografia.
“Diziam que era muito pouco”, realça o deputado ‘demo’, reproduzindo o gesto dos petistas da foto, o pelegar comprimido contra o dedo indicador.
Ricardo Trípoli (PSDB-SP) espezinhou: “Jamais imaginei que veria uma sessão em que o PT estaria em lado oposto ao dos trabalhadores”.
Ironia em doses cavalares, como se vê. No passado do PT, só existia o futuro...
...No presente, confrontado à intransigência que o levou a votar contra o Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, o ex-PT está condenado a ver o pretérito passando.
3 comentários:
O PT nunca esteve realmente do lado dos trabalhadores. O PT usou a classe trabalhadora para chegar ao poder
Não serviu aos trabalhadores, mas serviu-se e serve-se dos trabalhadores para se manter no poder e para que seus membros possam continuar recebendo as benesses do poder
Reflexão estonteneante aqui, opiniôes deste modo dão valor a quem quer que visitar aqui :)
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Bem feito!. Eu adorei o resultado da votação.Quem sabe assim a oposição acorda e as centrais sindicais tbm abaixam a crista.
Durante 8 anos as centrais sindicais mandaram e desmandaram no governo e a oposição fez ouvidos de mercador. Com essa vitória do governo acaba de cair por terra a república sindicalista que o Lula havia instaldo no Palácio do planalto.Foi uma derrota da oposição?.
Não. Foi o começo da derrocada do PT.Se a oposição souber explorar essa derrota dos trabalhadores e unir-se as centrais sindicais e as demais intidades de classe, poderão juntos colher bons frutos.
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