Os oposicionistas precisam parar imediatamente de opor-se uns aos outros e começar a fazer oposição ao governo. Ou aprendem a traduzir o que pensam mais de 40 milhões de inconformados ou acabarão aglomerados num asterisco do capítulo brasileiro da história universal da infâmia.
Depois de quatro dias de investigações, os repórteres Bruno Abbud e Branca Nunes identificaram oito dos 11 senadores que rejeitaram a permanência de José Sarney no comando da instituição que ajudou a reduzir a uma Casa do Espanto. Estranhamente, preferem permanecer no anonimato três integrantes do time que evitou que a capitulação desonrosa fosse sublinhada pela unanimidade. Essa é só mais uma entre tantas revelações contidas na reportagem publicada na seção O País quer Saber.
Ali se contempla uma desoladora radiografia do Senado. Em meio a incontáveis evidências da necrose moral que devasta o Legislativo, aparecem sinais perturbadores do corporativismo, da tibieza e da mediocridade que infestam a oposição oficial. Dos 18 componentes da bancada formada por quatro partidos, por exemplo, só dois senadores do PSOL e dois tucanos aparecem no grupo dos 11. A maioria optou por submeter-se a Sarney em nome da tradição parlamentar.
Manda a tradição parlamentar que a maior bancada partidária indique o candidato à presidência da Mesa, que negociará com aliados e oposicionistas uma composição suficientemente abrangente para obter sem sobressaltos o endosso do plenário. Mas a tradição também manda que a escolha se subordine a normas éticas e se oriente por critérios sensatos. Como ninguém é obrigado a votar em qualquer um, indicações equivocadas acabam inevitavelmente em mais um naufrágio.
José Sarney tinha tudo para acabar engrossando o vasto acervo de decisões desastrosas que se amontoam nas catacumbas do Senado. Mas o PSDB, o DEM e o PPS resolveram engolir sem engasgos o prontuário intragável. Em troca do apoio a um símbolo do Brasil das cavernas, a oposição recebeu a 1ª Secretaria e uma suplência. Nunca se ofereceu tão pouco por uma rendição tão vergonhosa.
Entre a tradição parlamentar e os valores morais, entre o clube dos cafajestes e o país que presta, fizeram a opção ultrajante. Ainda não entenderam que estão sob estreita vigilância. Os oposicionistas precisam parar imediatamente de opor-se uns aos outros e começar a fazer oposição ao governo. Ou aprendem a traduzir o que pensam mais de 40 milhões de inconformados ou acabarão aglomerados num asterisco do capítulo brasileiro da história universal da infâmia.
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