Rebeliões ressuscitam imagem de "cachorro louco" do ditador líbio

Patrocinador do terror nos anos 70, Gaddafi passou mais de uma década tentando deixar condição de pária

Abertura para negócios com o exterior, porém, não modificou regime personalista e repressão violenta dos opositores

Rigério Orteg/Samy Adghirni -  Folha de São Paulo
O "cachorro louco" líbio está de volta. Nos anos 80, era essa a expressão usada pelo então presidente dos EUA, Ronald Reagan, para definir Muammar Gaddafi, patrocinador de atentados em todo o globo, como a explosão do voo da Pan Am que matou 270 pessoas em 1988.

Desde o final dos anos 90, porém, o ditador líbio vinha se empenhando em corrigir, aos olhos do Ocidente, a imagem de pária internacional.
Foi bem-sucedido nesse esforço: levantou sanções, atraiu centenas de empresas estrangeiras para explorar as vastas reservas líbias de petróleo e investiu no exterior.

Mas esse "extreme makeover" para o público externo não mudou a natureza de sua ditadura, que começou em setembro de 1969 e é a mais longeva da África: megalomania, culto à personalidade, eliminação de opositores e dissolução de limites entre o Estado e a família do líder.
Tudo isso voltou à tona com os ataques do governo aos manifestantes nos últimos dias; estimativas falam em mais de 1.200 mortos.
"Estamos livres do cão", disse um dos rebeldes que tomaram o leste da Líbia. O "cão", porém, não deu o menor sinal de que pretenda sair.

DIVIDIR PARA REINAR
Na Líbia, o Estado é Gaddafi, autonomeado "guia da revolução". O país não tem Constituição, e o ditador se apoia nas tribos que compõem a base do regime. Para evitar o surgimento de alianças capazes de enfrentá-lo, sempre estimulou divisões.

Segundo Ronald Bruce St John, analista que já publicou sete livros sobre a Líbia, o país tem hoje mais de cem tribos. "Gaddafi as cortejou oferecendo dinheiro, construção subsidiada de casas, bolsas de estudos. Mas as tribos o estão abandonando."

"Uma das marcas de Gaddafi é seu esforço para pulverizar grupos que possam ameaçar seu poder absoluto. Ele dividiu o Exército e a sociedade e até jogou os filhos uns contra os outros", diz a especialista Roxane Farmanfarmaian, de Cambridge.

Vários dos nove filhos do ditador (oito biológicos e um adotado) detêm postos-chave no governo. O segundo, Saif, tido como favorito à sucessão, disputa essa condição com Mutassim, o quarto.
Em 2008, de acordo com despacho dos EUA que vazou para o site WikiLeaks, Mutassim pediu ao chefe da indústria petroleira líbia US$ 1,2 bilhão para montar uma milícia privada à semelhança da dirigida pelo irmão Khamis. Doze anos antes, briga entre os seguranças do irmão mais velho, Mohammad, e de Saadi, ex-jogador de futebol, deixou 20 mortes. Com fama de playboy, o quinto filho, Hannibal, pagou estimados US$ 2 milhões à cantora Beyoncé por show privado em Saint-Barthélemy, nas Antilhas, no Ano-Novo de 2010.

DINHEIRO DO PETRÓLEO
O mesmo ditador que, inspirado pelo pan-arabismo do egípcio Gamal Abdel Nasser (1918-1970), decretou a Líbia uma "república popular socialista" em 1977, oito anos após o golpe que o levou ao poder, chegou a 2011 com cerca de US$ 100 bilhões investidos no mundo todo.

Hoje, há dinheiro líbio na London School of Economics, no Pearson Group (que edita o jornal "Financial Times") e na Juventus, time italiano de futebol, entre inúmeros outros investimentos.
O lucro do petróleo, que explica o crescimento líbio e seu alto Índice de Desenvolvimento Humano, serviu para irrigar com bilhões de dólares, dizem estudiosos, contas secretas de Gaddafi e familiares no golfo Pérsico.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fidel ponha suas barbas de molho!

Anônimo disse...

E o Dirceu defende esse assassino,por que será,hem?