Sem poupar críticas, José Serra diz que governo não cumprirá projetos de campanha

O GLOBO
SÃO PAULO - Depois de um período sabático de quase três meses, o ex-governador e candidato derrotado do PSDB à Presidência da República, José Serra, começou há duas semanas a retornar, aos poucos, à cena política. Esteve na Câmara para uma reunião com a bancada tucana em meio à discussão sobre o reajuste do salário mínimo, apareceu em uma feira agropecuária no Paraná e, em seu escritório, em São Paulo, voltou à agenda de reuniões políticas.

Nesta primeira entrevista ao GLOBO, após a derrota eleitoral, concedida sob a condição de que fosse por e-mail, Serra diz que vê em marcha um "estelionato eleitoral" ao comentar o início do governo Dilma. É contundente ao negar eventual intenção de lançar um novo partido e fala da adaptação à vida "normal". Dias depois da votação do salário mínimo, considera que oposição se "saiu bem".

Apesar de as especulações sobre o seu futuro político, o ex-governador nega que haja um movimento em curso para levá-lo à presidência do PSDB. Afirma que não é hora de fazer essa discussão, mas não rechaça a possibilidade, como faz categoricamente quando perguntado se vai disputar eleições em 2012. Sobre a disputa presidencial de 2014, Serra considera o debate neste momento uma "perda de tempo".

Como o PSDB se saiu na votação do salário mínimo na Câmara, primeiro teste da oposição na gestão Dilma Rousseff?

JOSÉ SERRA: O PSDB se saiu bem, e o mesmo vale para nossos aliados. A bancada caminhou unida e de maneira clara e firme. O partido defendeu com força e razões a proposta dos R$ 600. Há uma outra questão importante apontada pelo deputado Roberto Freire. O projeto que a maioria governamental aprovou na Câmara é inconstitucional, pois permite ao Executivo legislar sobre o salário mínimo por decreto nos próximos três anos.

Parte do PSDB, liderado pelo senador Aécio Neves, chegou a flertar com as centrais sindicais para apoiar um mínimo de R$ 560 e abandonar a proposta de R$ 600, bandeira da sua campanha. Como o senhor viu esse movimento?

JOSÉ SERRA: Ponto um: é evidente que o PSDB deve dialogar com os sindicatos, centrais sindicais, associações, universidades. Deve apoiar e ser apoiado quando há convergência de pontos de vista, em torno de ideias e propostas concretas. Ponto dois: no reajuste do salário mínimo, a Força Sindical defendia R$ 580, muito mais próximos da nossa proposta de R$ 600 que do decreto do governo, de R$ 545. Só nos últimos dias, diante do rolo compressor do governo, as centrais começaram a mencionar os R$ 560. Agora, qualquer conversa do PSDB com entidades da sociedade civil deve ter o interesse do país como bússola. Não o interesse partidário ou o da corporação.

Qual a sua avaliação sobre a postura do governo Dilma nesse primeiro teste da presidente no Congresso?

JOSÉ SERRA: Lamentável. Está à vista de todos: oferece cargos, loteia o governo, promove a troca de favores não republicanos em troca da submissão de parlamentares. O valor do mínimo está sendo usado para o governo evidenciar ao mercado um rigor fiscal que ele absolutamente não tem. O falso rigor esconde a falta de rigor. Por que não começam pelos cortes de cargos comissionados ou dos subsídios, como os que são entregues ao BNDES? São uns 3% do PIB, R$ 110 bilhões. O governo está inflando despesas de maneira enganosa ou vai falir o país em um ano. Dou um exemplo: as despesas de custeio foram de R$ 282 bilhões em 2010. O orçamento deste ano diz que o governo vai gastar R$ 404 bilhões: um aumento de 43%. Os restos a pagar do governo Lula se elevam só neste ano a R$ 129 bilhões. Quer apostar como vão cancelar muitos dos projetos, depois de servirem como instrumento para atrair votos na campanha?

Leia a entrevista na íntegra no
Globo Digital .

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