Por Guilherme Fiuza - Época Online
Assim como o papa João Paulo II, José Alencar escolheu sofrer em público. Ambos poderiam ter deixado seus cargos, no momento em que não tinham mais condições de exercê-los normalmente.
É um tipo de escolha que envolve coragem, mas talvez não seja uma boa escolha.
O espetáculo do fim é sempre triste, e a todo momento alguém está travando sua batalha final. Transformar um cargo público em ponto de encontro para a solidariedade geral pode ser legítimo, mas pode ser também pura amplificação do sofrimento.
José Alencar será lembrado, principalmente, como um vice-presidente que lutou contra um câncer. Isto pode lhe dar uma dimensão heróica, mas embaça sua biografia política.
Qual terá sido a importância política de José Alencar? Eis uma pergunta de difícil resposta.
Depois de uma trajetória pouco relevante como senador – mandato conseguido com a força do empresário –, Alencar ficou conhecido por fazer chapa com Lula: era a união do capital com o trabalho.
Na realidade, essa suposta união de classes nunca passou de um slogan – mais um fetiche exaustivamente explorado pelo populismo.
Lula se tornou palatável às “elites” graças à guinada que deu contra os princípios sectários do PT. Todo o acordo para o respeito às instituições, e as garantias de que não haveria revanchismo “social”, foram costurados por Palocci e Dirceu.
José Alencar não teve importância nesse acordo de paz entre “o capital e o trabalho”.
Ao contrário, ao longo de seus oito anos de mandato, o vice-presidente escolheu uma trincheira de “governo de oposição” – atacando sistematicamente alguns pilares da política econômica, e fazendo uma suposta cruzada contra os juros altos.
Nesse particular, nem é possível dizer que Alencar chegou a fazer de fato uma campanha, já que apenas repetia seu bordão contra os juros, sem nada propor. Chegou a declarar que, se fosse presidente, baixaria os juros por decreto – o que só pode ser levado a sério pelos xiitas do PSTU.
Na política, José Alencar viveu de sua biografia empresarial – o garoto pobre que enriqueceu trabalhando de maneira honesta. Um belo exemplo.
Mas alçá-lo à galeria dos líderes políticos não é honesto. Uma das causas perversas da exploração do trabalho pelo capital, no Brasil, é a esdrúxula estrutura tributária, pela qual o Estado garfa a produção privada. Não se tem notícia de uma ação clara do ex-vice-presidente da República contra esse absurdo.
O papel realmente vivido por José Alencar, em oito anos de governo, foi o do empresário amigo do operário presidente.
Como mitologia, muito interessante.
Fora isso, fica a solidariedade ao homem que lutou bravamente pela vida – como tantos outros lutam, longe dos holofotes.
2 comentários:
lutar contra o cancêr no melhor hospital do país, ir para os eua lutar contra o cancêr, ter todos os recursos mais modernos a sua disposição, é claro que prolongou sua vida. agora lutar contra o cancêr no sus aí sim há heroismo.
Um oportunista, que teve como função ficar cego,surdo e mudo as falcatruas e negociatas do partido dos trabalhadores.Foi omisso e jamais se empenhou em honrar os seus eleitores.Morrer não o torna imune a sua culpa,morreu lutando em bons hospitais,jamais imaginando como é lutar pela vida em hospitais publicos e sem condições de se comprar remedios.Meus pesãmes a sua familia,pela sua dor,porem o homem será lembrado apenas pela sua doença,não pela sua contribuição ao País.
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