Me embrulha uma dúzia de universidades

Por  Ralph J. Hofmann - Prosa&Política
Quando Sua Lulidade aproveita seu carisma para dizer que ele, um sujeito sem estudo é quem mais universidades criaram neste país deixa as suas banhas posteriores à mostra, consegue enfatizar sua nulidade.

Universidade não é prédio como todos sabem. Universidade é instituição de ensino e farol de cultura.

Imaginemos um torneiro mecânico. Um torneiro mecânico ou um mecânico ajustador sabem produzir uma peça, sabem o contexto da peça numa máquina num equipamento. Mas raramente sabem por que esta peça dever ser da forma encomendada ou por que a máquina ou equipamento está sendo produzido de certa forma, com certos materiais. O contexto geral é mais amplo. E o domínio deste contexto mais amplo se chama de engenharia e é um curso superior.

Aqui, para ser justo, cumpre lembrar que há exceções. Há o torneiro ou o ajustador com capacidade intuitiva, ou com capacidade de pesquisar para aprender o contexto. A maioria dos cientistas alemães que criaram os programas espaciais tanto da NASA quanto dos russos não tivera tempo de freqüentar uma universidade. Foram empregados como técnicos e aprenderam a freqüentar bibliotecas para pesquisar o que precisavam saber para chegar à próxima etapa de conhecimentos de que precisavam (Vide o livro “Espaço” do Henry Michener) . Mas estes são casos excepcionais, a exceção que confirma a regra.

Então para que uma universidade funcione a contento é preciso que haja um corpo docente. E o corpo docente precisa ser composto de pessoas que realmente dominem a matéria, que se possível sejam autoridades no seu campo ou tenham excepcional capacidade didática. Então se suporia que a fundação de universidades deveria primeiro contemplar a disponibilidade ou treinamento de professores para apenas depois contemplar a construção de prédios. Pergunte aos que transformaram a USP no gigante de hoje. Pergunte sobre os prédios precários onde começaram algumas das faculdades e institutos respeitáveis de hoje.

E tivemos retrocessos. Antigamente as faculdades federais tinham professores que eram extremamente respeitados em seus campos de atuação. Hoje com a dedicação exclusiva um grande profissional prefere atuar em empresas do setor privado. Seu talento permite uma remuneração muito superior. Ganham as faculdades privadas que se beneficiam de quatro ou oito horas semanais de um professor de com trânsito no dia a dia das empresas. Em muitos casos a dedicação exclusiva apenas atrai aos burocratas da especialidade.

No meu tempo de faculdade, certa vez estando no interior durante minhas férias de verão vi uma lista dos professores de uma faculdade local. Um dos nomes chamou minha atenção. Era meu professor e amigo. No cafezinho do centro acadêmico pergunte que dias dava suas aulas naquela cidade, com intenção de ocasionalmente pegar uma carona e passar a noite lá. O professor ficou atônito. “Não dou aula lá. Pediram meu currículo, mas nunca mais me contataram.”. Pois constava como o catedrático. Haviam pedido currículo e apresentado ao Ministério da Educação. Investigando se descobriu que muitos professores da UFRGS e da PUCRGS constavam como catedráticos sem sabê-lo. Com isto podemos aquilatar a escassez de professores qualificados para serem titulares de cadeiras. Com a proliferação de universidades é fácil imaginar como deve estar a situação.

Um prédio cheio de alunos não é uma universidade sejam estes alunos escolhidos pelo patético ENEM ou por um vestibular que selecione os elementos mais preparados. O mérito do vestibular era e é uma admissão do fato de que se a universidade é um recurso valioso do país deveria ser freqüentada pelos elementos que mais pudessem devolver ao país em termos de criatividade e produtividade. Exigir quotas raciais ou para o ENEM ou FEBEM ou qualquer sigla que se proponha achata e diminui a proposta de excelência absolutamente vital para um país carente.

Um aluno preparado deveria enfrentar um vestibular e receber preferência para freqüentar as melhores faculdades do ranking nacional onde estariam preparados para aproveitar um ensino mais rigoroso em que se presume que o aluno tem o preparo básico para aceitar desafios a partir do primeiro dia de aula.

Alunos que entrem por outros sistemas deveriam satisfazer sua ambição por ensino com cursos comunitários, que levem em conta a necessidade de compensar o mau ensino médio e que até possam ter uma maior duração sob este prisma. Alunos excepcionais descobertos neste sistema sempre poderiam ser transferidos para as escolas de ranking superior.

Mas isto é um papo para país sério com ministros sérios, que tenham assessores sérios, não pessoas que estejam aí para aproveitar a mamata e ocasionalmente finjam que sabem planejar alguma coisa.

3 comentários:

Ivo Gomes de Oliveira disse...

Excelente e real este texto.

Solange disse...

Desavisado quem acha que ensino superior é para todos. Que pensamento bôbo e tacanho. Ave..

Anônimo disse...

Um torneiro mecânico ou um mecânico burro que cortou o dedo no torno?.
Ele não criou universidade, o que ele fez foi ampliar o numero de vagas nas universidades no mesmo espaço fisíco, entulhando as salas de aula de tal forma que não sobra espaço nem pra respirar.Habemus Universidades!..Não Habemus prédios sucateados e amontoados de alunos em depósitos únidos e fedorentos sem ar condicionado e nem mesmo ventilador ou qualquér buraco de ventilação..