O caso dos ministros revistados confirma que um policial bem treinado reconhece de longe quem tem culpa no cartório

Lobão até que tem sorte. Se os agentes de Obama soubessem português e conhecessem o prontuário disfarçado de ministro, “Magro Velho” não escaparia de um “Teje preso!” com sotaque americano

“Ministro meu não vai tirar sapato para revista”, gabou-se durante oito anos o ex-presidente Lula, tentando transformar em agressão à honra nacional um episódio sem maior relevância protagonizado em 2002 por Celso Lafer, então ministro das Relações Exteriores. Mas pode ser humilhado com sapatos, soube o país em julho do ano passado, quando o chanceler Celso Amorim foi impedido pelo governo israelense de entrar na Faixa de Gaza e sumariamente despachado de volta para casa.

Desmoralizada por Amorim, a bravata do palanqueiro acaba de ser pulverizada pela rigorosa revista a que foram submetidos por policiais americanos ─ em território brasileiro ─ quatro ministros de Estado. Edison Lobão e Guido Mantega foram ministros de Lula e continuam titulares no time de Dilma Rousseff. Aloízio Mercadante ganhou o emprego por ter perdido a eleição de que participou por ordem de Lula e Dilma. Fernando Pimentel é um pupilo de Dilma que Lula topou engolir.
Ao chegarem para o encontro da Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos, foram todos apalpados com minúcia e vagar pelas mãos de agentes do esquema de segurança de Barack Obama. Os quatro deixaram o local do evento antes do discurso do presidente americano. “Eles não pensaram duas vezes para retirar-se”, equivocou-se o site do Estadão. Pensaram muito mais que duas vezes em pedir para sair.

Pensaram nisso a cada apalpadela mais forte, como atestaram a cara amuada de Mercadante, os muxoxos de Mantega e os rosnados em surdina de Edison Lobão. E voltaram a pensar quando descobriram que os organizadores do evento não haviam providenciado um sistema de tradução simultânea. Só então decidiram bater em retirada. Abandonaram o recinto não por sobra de altivez, mas por falta de fones de ouvido.

No momento da revista, os pais-da-pátria já tinham oferecido aos fotógrafos a expressão do aristocrata pilhado com as calças puídas nos fundilhos. Preferiram poupar-se de posar para a posteridade com o olhar idiotizado do monoglota que simula com movimentos de cabeça estar entendendo o que lhe parece tão inteligível quanto um poema em grego antigo. O quarteto caiu fora porque o vocabulário em inglês não vai muito além do debuquisondeteibol.

Edison Lobão diz que os organizadores da visita haviam prometido dispensar ministros de revistas e quer explicações do chanceler Antonio Patriota. O acerto certamente foi transmitido à turma da segurança, mas acabaram prevalecendo o instinto e a experiência de profissionais treinados para reconhecer de longe quem tem culpa no cartório. Diante da aproximação de um Edison Lobão, por exemplo, qualquer policial americano do primeiro time precisa de muito sangue-frio para não levar a mão ao coldre.

Lobão até que tem sorte. Se os agentes de Obama soubessem português e conhecessem o prontuário disfarçado de ministro, “Magro Velho” não escaparia de um “Teje preso!” com sotaque americano.

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