Revisitando Revolta dos Animais

Ralph J. Hofmann- Prosa&Política
Lá no seu íntimo George Orwell não acreditava na boa índole dos homens. E se estiver olhando o Brasil daquele lugar reservado para escritores no além deve estar melando os bigodes de tanto rir enquanto toma seu chá no pires.
Quando o livro “A Revolta dos Bichos” chega ao fim o porco Snowball acaba de aprender a andar como homem, vestir-se como homem comer no prato como homem e possivelmente vai se candidatar a Lorde Prefeito da cidade.
Para tanto alterou a “declaração dos direitos dos animais”, em ato que seria copiado por Nelson Jobim na constituinte do Brasil e agora lê-se: “Todos os animais são iguais, mas os porcos são mais iguais que os outros”.

Temos evidências aqui no Brasil que apontam para o fato de que os porcos podem aprender a fingir que são homens, freqüentar a sociedade, as escolas e o que mais lhes aprouver. Mas há atavismos comportamentais que jamais perderão
Por exemplo, esta semana o governador do Rio Grande do Sul, advogado formado algoz dos governos ao seu tempo de titular de banca especializada em direito do trabalho parece conhecer muito pouco fora do campo estrito de arrancar benesses para seus representados em causas trabalhistas.

Pontifica: ”O Brasil tem (Cesare Battisti) um prisioneiro político e esse prisioneiro é do Supremo Tribunal Federal, que mantém preso um cidadão que recebeu refúgio do governo brasileiro”.
O Supremo desconstituiu um ato do próprio de Tarso Genro. Ministro da Justiça, contra a decisão do Conare (Conselho Nacional de Refugiados), Tarso Genro concedera a Battisti status de refugiado político. O Conare tinha negado o refúgio por 3 votos a 2. O Supremo refutou o miolo da tese do ex-ministro. Considerou que Battisti é criminoso comum, não político. Entendeu que o preso, condenado por quatro assassinatos frios e covardes, foi julgado em uma Itália na plenitude de sua vida democrática, por um Judiciário submetido ao pleno Estado de direito. O Supremo considerou constitucional o pedido de extradição feito pela Itália. Circunscreveu a decisão aos limites de um tratado firmado entre Brasil e Itália. Coisa que, ratificada pelo Congresso, tem peso de lei.

O governador diz que o terrorista é um “prisioneiro político” no Brasil porque está preso, no presídio da Papuda, em Brasília. É óbvio, está preso e permanecerá preso, até que o Supremo decida o que fazer com ele. Ocorre que o fato de o presidente Lula ter recusado ordenar sua extradição não funciona como uma ordem de soltura do terrorista Cesare Battisti. No Brasil, mesmo debaixo de governos petistas, somente quem determina prisão ou soltura de uma pessoa é a Justiça, e não o poderoso do momento. Além disso, se fosse decidido que não haverá extradição, de qualquer maneira o terrorista Battisti precisaria sair do Brasil, porque seu refúgio foi considerado ilegal pelo Supremo Tribunal Federal e o ato de Tarso Genro foi anulado. O Ministro não podia estar acima da lei. O Ministro ao argumentar contra a decisão do supremo está provando ter desprezo pela lei. Considera-se a própria lei.

Enquanto isto lá em Brasília o Ministro Mantega trata de defenestrar um dos mais brilhantes administradores do Brasil. Roger Agnelli. Veladamente ameaça o presidente do Bradesco, com sua manopla de aço revestida com pelica para que vote com o governo para, reestatizar a Vale. A Vale, com a caixa cheia com uma rentabilidade excepcional é um bom repositório para mais alguns milhares de aspones sanguessugas do governo. Talvez sirva também para a próxima operação tapa-buraco quando novamente houver um rombo nas contas públicas, já que a Petrobrás decididamente não poderá fazer uma nova operação de receita fictícia para o governo tão cedo.
Claramente os porcos da Fazenda dos Animais aprenderam a andar, compram seus ternos na Saville Row em Londres, jantam iguarias no “Four Seasons “ em Nova Iorque, mas o que realmente gostam, por atavismo, é de comer enfiando o focinho no cocho grunhindo animalescamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto.