Amnésia política – Exigir coerência dos operadores da política é tarefa das mais desafiadoras, quiçá não seja impossível. Assim pensam os jornalistas deste noticioso, que insistem em mostrar aos brasileiros que os interesses pessoais dos políticos sempre atropelam a lógica e o bom senso, sem contar que os discursos pretéritos são sepultados com impressionante facilidade, como se a memória do eleitor fosse uma vala comum na mais abandonada das necrópoles.
Ao defender a aprovação da Medida Provisória que autoriza a concessão de empréstimo no valor de R$ 20 bilhões, através do BNDES, ao consórcio vencedor da licitação do trem-bala, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), relatora da matéria, abusou da desfaçatez ao citar as obras do Metrô de São Paulo. Disse a senadora petista, na quarta-feira (13), que o metropolitano da maior cidade brasileira pouco avançou desde a sua inauguração, na década de 70, se comparado com os de outros países.
Marta aproveitou a oportunidade para defender a sua passagem pela prefeitura paulistana, alegando que ao receber a administração da capital dos paulistas encontrou as finanças públicas em péssimas condições. Marta Suplicy não pode esquecer que ao deixar a prefeitura, após ser derrotada pelo tucano José Serra, as contas de sua administração forma beneficiadas por uma manobra do Palácio do Planalto, que lançou mão do programa Luz para Todos como forma de impedir que a companheira tropeçasse na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Por outro lado, Marta não tem moral para criticar o seu antecessor na prefeitura de São Paulo, Celso Pitta, que foi eleito na condição de afilhado político de Paulo Salim Maluf, até então eterno desafeto do PT e dos petistas. Acontece que no segundo turno da eleição paulista de 2004, Marta Suplicy contou com o apoio inesperado de Maluf. Encontrar na história política nacional explicações para esse repentino apoio é missão quase impossível, mas quem pode ajudar nessa tarefa é Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do escândalo que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT”.
Não foi por acaso que a Polícia Federal encontrou na contabilidade do maior escândalo de corrupção da história brasileira um registro contendo o nome do Partido Progressista, legenda à qual é filiado Paulo Maluf. À época, o então presidente do PP de São Paulo, Vadão Gomes, precisou de muita paciência e dedicação para provar sua inocência no caso, pois em nenhum momento o dinheiro supostamente destinado ao partido, de acordo com a contabilidade do mensalão, acabou nos cofres da legenda.
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