Quando a cobra fumar e a onça beber água no julgamento do mensalão é que se verá o quanto Dilma e Lula são diferentes. Ou não.
Os lulistas ficam eriçados como as cerdas bravas do javali quando, por falta de assunto ou de notícias do governo, a imprensa insiste em comparar e acentuar as diferenças entre Dilma e Lula. Logo dizem que a amizade dos dois é inabalável, que eles discutem a relação toda semana, que ninguém vai intrigá-los, muito menos a mídia golpista. Dilma sempre elogia Lula em público, chegou a dizer que eles tinham muitas afinidades, mas não eram a mesma pessoa, como se alguém pudesse sê-lo.
Nem o mais pérfido e melífluo dos conspiradores tem a pretensão de abalar a aliança de Lula e Dilma, porque os dois podem ser tudo, menos burros. Talvez sejam diferentes na tolerância com incompetências e malfeitorias de aliados, mas só o tempo dirá.
A evidência é que o estilo Lula de animador de auditório, de bravatas e grossuras, de palanqueiro em campanha permanente, pode até ser divertido e ter funcionado, mas foi tão intenso que cansou o público, como os comediantes de sucesso depois de um tempo. Isso não faz melhores ou piores os resultados de sua administração, é só uma questão de estilo. Desgostar do jeito de ser de alguém não impede de reconhecer o seu desempenho.
Com os aplausos que o seu governo merece e respeito pela sua história, muita gente acha esse estilo detestável. Sem preconceito contra líderes populares falastrões, ou nordestinos notáveis, ou quem não podia estudar mas aprendeu a ensinar, como Marina Silva. Muitos também detestam o estilo pavão de FHC. O que incomoda é a obsessão pelo protagonismo, a prepotência e estridência da fala rude e machista, o rancor e o ressentimento do discurso divisionista, o choro fácil. Ninguém aguenta tanto exibicionismo autocongratulatório durante muito tempo, nem os líderes mais populares.
Com a sobriedade e autoridade naturais de uma personagem que lhe é confortável, Dilma está aparecendo mais pelo que não faz como Lula do que pelo desempenho do seu governo. Mas foi ele que a descobriu, acreditou e apostou nela.
Quando a cobra fumar e a onça beber água no julgamento do mensalão é que se verá o quanto Dilma e Lula são diferentes. Ou não.
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