Ladrão que rouba guerrilheiro...

Integrantes das Farc foram assaltados em São Paulo, revela dossiê

O GLOBO
RIO - Nem a guerrilha colombiana escapou dos assaltantes em São Paulo. Entre os mais de três mil emails obtidos do computador de Raúl Reyes, fatos curiosos emergem junto com detalhes das operações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc. E nada mais curioso para uma guerrilha que sobrevive há quatro décadas a pesados ataques do governo colombiano do que cair nas mãos de gatunos brasileiros. 

NEXOS: Chávez teria usado aparato especial para ajudar as Farc
Um assalto em plena luz do dia, no centro da capital paulista, é o que relata Rodrigo Granda, o "chanceler" das Farc, a Reyes, o número 2 do grupo. As vítimas são descritas como Camilo (provavelmente Francisco Antonio Cadenas Collazos), Tino e Zé María (pessoa possivelmente ligada à Coordenação Continental Bolivariana), os dois primeiros membros das Farc.

"Perderam 250 reais e um celular, mas saíram ilesos, o que é importante", ressalva Granda. O que os ladrões não sabiam é que dois desses três personagens teriam mais dinheiro com eles, mas não necessariamente no momento do ataque. "Tino ajudou a trazer 60 mil e RT, 20. Com Camilo deixaram 20, outros 20 ficaram em Assunção e 30 para um novo trabalho", diz o mesmo email de outubro de 2003.

A presença de Camilo no Brasil foi polêmica. Ex-sacerdote e também conhecido como Padre Oliverio Medina, foi preso duas vezes: em 2000 e 2005. Mas os emails compilados no livro "Dossiê das Farc: os arquivos secretos de Venezuela, Equador e Raúl Reyes", do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, mostram pressões tanto para sua libertação quanto extradição à Colômbia. 

A visita do então presidente colombiano, Álvaro Uribe, ao Brasil foi relatada por Reyes em 29 de abril de 2006 a Manuel Marulanda - líder das Farc que morreu em 2008. Sem revelar sua fonte, Reyes conta que Uribe pediu dois favores a Lula: convencer o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a retornar ao Pacto Andino, e extraditar Camilo. 

"Lula disse que podia falar com Chávez, mas que não deveria ter ilusões, e que não entregaria o padre porque havia muitas pressões de partidos, sindicatos. Uribe suplicou para manter Camilo preso pelo menos até as eleições colombianas passarem. Isto, sim, foi aceito", escreve Reyes.
Uribe foi reeleito em 28 de maio daquele ano, e Camilo recebeu o status de refugiado político dois meses depois, mas para isso teria se desvinculado da guerrilha. No entanto, continuou enviando notícias do Brasil a Reyes até pouco dias antes de o líder guerrilheiro morrer num ataque a um acampamento das Farc no Equador, em 1 de março de 2008.

Representantes das Farc no Brasil relatavam um certo afastamento entre o então presidente Lula e Chávez, e que o Partido dos Trabalhadores estava "fechando a porta" à participação de representantes da guerrilha na reunião do Fórum de São Paulo de 2005. 

"Comenta-se que Lula evita estar muito perto de Chávez, devido à proximidade deste com (Fidel) Castro", diz o email de Camilo a Reyes, em 3 de março de 2005. O texto diz que Lula desmarcara na última hora a participação num evento comum. Como Chávez manteve a presença, Lula teria cedido, teria dito a ministra de Negócios da embaixada venezuelana, Eloisa Lagonel, a Camilo.
O email comenta também que Lula teria decidido visitar um assentamento dos sem-terra somente após o anúncio de Chávez de que iria a um acampamento do MST durante o Fórum Mundial Social. Em outubro, a guerrilha parece aliviada com uma reaproximação dos dois presidentes. "É magnífico que Lula se aproxime mais de Chávez", escreve Reyes. 

Já o PT é descrito por Camilo como "um saco de gatos ideológico, dentro do qual se disputam interesses". Além disso, a guerrilha reclama da tentativa do partido de vetar sua participação no fórum e comenta a sugestão de um aliado.
"O que devemos fazer é nos apresentarmos nas reuniões e, se nos vetam, então confrontar. (...) Se o PT do Brasil se opõe, se dá o confronto e os levamos a responder pela destruição de uma organização revolucionária como o fórum", diz um pessoa identificada como José Luis a Reyes.

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