Lula disse durante oito anos e Dilma Rousseff repete há quatro meses que, desde 1° de janeiro de 2003, o Brasil é governado por gente que só pensa em resolver os problemas dos pobres. Desde que não atrapalhem a vida dos ricos de estimação criando problemas que o governo seja obrigado a resolver, confirma a entrevista de Francenildo Costa ao site de VEJA. O apego à verdade custou ao caseiro da República de Ribeirão Preto o estupro do sigilo bancário, um interrogatório na Polícia Federal, a acusação de ter recebido de partidos de oposição os R$ 30 mil depositados pelo pai biológico e a perda do emprego. A opção pela mentira, no Brasil, costuma ser bem mais vantajosa.
Afastado do Ministério da Fazenda depois da violação da conta de Francenildo na Caixa Econômica Federal, Palocci elegeu-se deputado federal em outubro do mesmo ano, manteve os estreitos vínculos com o Planalto, coordenou a campanha de Dilma Rousseff e voltou ao coração do poder como chefe da Casa Civil. Nesta semana, soube-se que, entre 2006 e 20010, encontrou tempo para multiplicar por 20 o patrimônio. O destino só foi inclemente com a vítima. Por ter confirmado que Palocci frequentava regularmente a mansão que jurou não conhecer, Francenildo nunca mais conseguiu emprego fixo.
Sobrevive com trabalhos temporários, que lhe rendem mensalmente pouco mais de R$ 1 mil, e ainda não recebeu da Caixa a indenização fixada pela Justiça em R$ 500 mil. Qualquer sala do apartamento novo de Palocci vale mais que isso. Não é o preço do imóvel que espanta Francenildo. É o muro de silêncio que cerca o ministro. Cinco anos depois do estupro da conta do caseiro, o mandante do crime invoca o sigilo contratual para não identificar os clientes que o transformaram num dos mais prósperos consultores do país. “Por que ele não explicou de onde veio o dinheiro?”, intriga-se. “Na minha época eu tive de explicar”.
Com a naturalidade dos que não têm culpa no cartório, Francenildo acha que “o cara que não diz de onde veio o dinheiro é porque o dinheiro é suspeito”. Se não tivesse nada a esconder, bastaria a Palocci revelar os nomes dos clientes. Ao escondê-los, estimula a suspeita de que os fregueses têm relações comerciais com o governo de que Palocci sempre fez parte, com ou sem gabinete no Planalto. Nessa hipótese, teriam contratado não um consultor para assuntos econômico-financeiros, mas o político que conhece todos os caminhos das pedras.
A nota em que se escala no time dos grandes craques do mercado financeiro foi outra má ideia. “Persio Arida, André Lara Rezende, Pedro Malan e Mailson da Nóbrega têm atividade privada de conhecimento público,Palocci manteve atividade secreta no exercício da função pública”. replicou o deputado baiano Jutahy Magalhães. Nenhum deles foi candidato a vagas no Congresso, poderia ter acrescentado o parlamentar tucano. Já eram economistas respeitados antes da passagem pelo poder, e são identificados com a oposição.
Nesta quarta-feira, em seu blog, o ex-governador Alberto Goldman afirmou que Palocci “não apenas usou de seus conhecimentos adquiridos, o que seria legal e moralmente aceitável, mas usou de sua influência sobre um governo que, mesmo fora dele, ainda em grande parte comandava”. Tradução: o que fez Palocci é muito parecido com o que faz José Dirceu. Só a divulgação da lista de fregueses poderá esclarecer se o ministro enriqueceu como consultor ou como traficante de influência. A segunda alternativa é mais que ilegal. É obscena.
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