Ou seja, do ponto de vista de Sarney, 1992, o ano em que o Senado aprovou o impeachment, deve ser passado na borracha porque não deveria ter acontecido.
Josias de Souza - Folha Online
A história, como se sabe, é senhora seletiva. Só o fato notável sobrevive ao corredor frio da posteridade.
No Senado, há um ‘Túnel do Tempo’. Cruzam-no os visitantes. Atravessam-no os senadores, no caminho entre os gabinetes e o plenário.
As paredes do tal túnel são ornadas com painéis que retratam episódios marcantes da vida republicana.
Pois bem. Sob a presidência de José Sarney, o Senado decidiu reescrever um pedaço da história.
Arrancou das paredes os painéis que retratavam o impeachment de Fernando Collor. Por quê? Ouça-se Sarney:
“...Talvez esse episódio seja apenas um acidente que não devia ter acontecido na história do Brasil...”
“...Mas não é tão marcante como foram os fatos que aqui estão contados, que foram os que construíram a história e não os que, de certo modo, não deviam ter acontecido”.
Ou seja, do ponto de vista de Sarney, 1992, o ano em que o Senado aprovou o impeachment, deve ser passado na borracha porque não deveria ter acontecido.
Hoje senador, Collor não merece enxergar as imagens de “um acidente” fortuito penduradas no túnel que é compelido a cruzar.
Em parte, Sarney tem razão. A história está repleta de fatos que não deveriam ter acontecido. Sua tetrapresidência no Senado é um deles.
O diabo é que, ao tentar esconder o inescondível, Sarney rende-se à política do avestruz. Enfia a cabeça do Senado no inacietável.
Cabe a pergunta: os demais senadores vão permitir? Por ora, não se ouviu palavra.
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