A casa e a matemática mal-assombradas


Por Claudio Schamis - Opinião e Notícia
Se você curte um terror não precisa ir para a Disney aproveitando o dólar baixo. A moda agora é ir até Brasília e dar uma passada na Casa Civil.

Se você curte um terror não precisa mais nem pensar em ir ao Hopi Hari ou até mesmo para a Disney aproveitando o dólar baixo. A moda agora é ir até Brasília e dar uma passada na Casa Civil. Mas é preciso ter coragem de encarar, pois é considerada nos sites e guias turísticos mais importantes do país como sendo a casa mais mal-assombrada do mundo.

E, ainda assim, se os “especialistas” que sempre surgem nessa hora disserem o contrário, tem explicação. Sempre há uma explicação.

Se realmente não for assombrada – o que eu duvido muito – é amaldiçoada. Do tipo que, se você entrar e sentar na cadeira, poderá sofrer e ter sua imagem imaculada abalada, manchada. Você entrará na boca do sapo, repórteres irão perseguir você, flashes pipocarão a cada olhar, a cada careta, a cada gesto. Manchetes em jornais, revistas. Blogs, sites, todos falarão de você, sobre você, seu caráter e vida pregressa. Brigarão por você. Surgirão advogados de defesa, de acusação. Você e sua família terão insônia. Comerão pouco, ouvirão muito. E no fim da história…

Bem no fim da história, todos ficam felizes.

Opa, pode parar! Acho que já chega né? Isso aqui não é história da carochinha, não é uma fábula de La Fontaine e nem vivemos no mundo encantado de Bob. Isso é vida real. Quantos mais precisarão sentar e levantar sem ao menos fazer com que a cadeira chegue a temperatura ideal? Pois até agora ninguém conseguiu esquentar a dita cuja. E olha que passaram pessoas que eram acima de qualquer suspeita, como José Dirceu, Erenice Guerra e Palocci. Até a Dilma passou pela Casa na época em que Fernando Henrique era presidente e quase saiu da mesma maneira que antecessores e sucessores, mas, blindada por Lula, saiu ilesa. É ou não é algo maldito? Que acabem com a Casa Civil. Ou pelo menos não dê tanto poder aos ministros de lá, pois este tem subido à cabeça de todos e todos têm perdido a razão, o discernimento, os valores, o certo e o errado. Não há um equilíbrio. É tudo ou tudo. Nada não existe.

O que existe é outra maldição que faz com que as pessoas esqueçam-se dessas passagens dessa gente por lá e seus atos execrados, mas, parafraseando a música da poupança Bamerindus: “o tempo passa, o tempo voa… e a memória das pessoas continua a mesma m***”. Prova disso é que José Dirceu está de volta ‘nas parada’ e ninguém acha estranho, ninguém fala nada. O próprio Palocci, que foi alvo de escândalos enquanto prefeito de Ribeirão Preto e também enquanto Ministro da Fazenda, estava aí livre, solto e no poder. E acabou na Casa Civil, dando no que deu. Aliás, o que Palocci deu só ele sabe e quem recebeu. Já o que ele recebeu ninguém precisa dizer, todos viram: o milagre da multiplicação do patrimônio.

Resta saber se essa matemática empregada na avaliação do patrimônio de Palocci é a mesma que está no livro do MEC (é outro livro tá gente, fiquem tranquilos), onde 10 – 7 = 4. 
O cruel disso é que é essa a matemática que está sendo ensinada nas escolas públicas rurais de ensino fundamental. São 200 mil coleções (elas incluem também livros de português, história, geografia e ciências), ou sete milhões de exemplares distribuídos para quase 40 mil escolas. E fica pior, pois em 2008 esse material foi revisado pela galera do próprio MEC e ficou por isso mesmo. E alguns erros estão lá há 12 anos. Ou seja, estamos formando (ou tentando formar) qualquer coisa. Parece que certas pessoas estão querendo mostrar que livros são distribuídos, que se está fazendo alguma coisa pela educação. Isso é fazer? Com esse desleixo? Com essa vontade de formar realmente pessoas que possam num futuro brigar em igualdade com alunos de colégios particulares? Isso eu não engulo. Isso é absurdo. É abusar demais da sanidade das pessoas.

Gastou-se com esse erro meros (para muitos) R$ 14 milhões, e só se pretende refazer a coleção em 2013, até lá…serve isso mesmo.

Achar os culpados é preciso, mas antes de qualquer coisa é preciso resolver o problema. Até porque, segundo entrevista da secretária de Educação Continuada do MEC, Cláudia Pereira Dutra, isso ainda vai demorar, pois, segundo ela, pode ser erro de diagramação, erro de editoração, revisão. Então já viu né? Isso vai virar até novela.

Novela ou não talvez esteja aí à explicação de muitas de nossas questões políticas. Vai ver foi com essa matemática que muitos se formaram e hoje são PhD´s em contas.

E enquanto isso, nas contas deles, sempre há lugar para um sinal de mais e um de menos dependendo da ótica, e na matemática de pobres mortais como nós, 2 + 2 ainda é e sempre será igual a quatro.

Salvem a matemática. Salvem a educação. Salvem a Casa Civil. E claro, as baleias. Essas sempre!

PS: Não poderia deixar de terminar assim, até para que meus críticos ferrenhos e amantes do PT não falem que torço sempre contra o governo.

Muito boa sorte a nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que fique por lá por muito tempo e fazendo bonito. Pelo menos, é a mais bonita que por lá está agora. Com todo o respeito.

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