NATAL - Vez ou outra me encontro com o jornalista Franklin Jorge. A última vez foi durante o lançamento do livro do Procurador Federal, Marcelo Alves Dias, “Ensaios Ingleses”, que por sinal trata-se de um belo do livro. Belo livro. Marcelo demonstra grande erudição e faz um passeio (o livro são crônicas-ensaios escritos de Londres para jornais locais) envolvendo a área jurídica, ou seja, o direito com literatura, teatro, cinema, política e filosofia. E Marcelo sai muito bem. São textos ao mesmo tempo leves e ricos de conhecimento e informação culta mesclados com informações sobre o dia-a-dia londrino comparando aos mores tropicais. A “orelha” do livro tem como assinatura um texto do próprio Franklin. Vale à pena e eu recomendo.
Faço essa abertura na verdade para dizer do imenso prazer que é papear com o jornalista Franklin Jorge. Sempre que me encontro com Franklin, além do prazer de escutá-lo, na verdade, ganho muito mais do que retribuo. Franklin é detentor de uma cultura impar, e me agrada sempre suas análises desprendidas, seus comentários sempre pertinentes e instigantes sobre o fazer cultural, político e social da terrinha.
É espantoso como Franklin desperta raiva em tanta gente da nossa terra. Mas ao mesmo tempo é extremamente admirado por muitos que não deixam de ler seus textos e livros. Essa dicotomia nos afetos locais na verdade sempre foi uma algo que acompanhou a trajetória jornalística e intelectual desse que uma vez eu intitulei como o nosso “eterno Rei Lear”, personagem de uma das peças de Shakespeare. E é fácil entender a raiva que Franklin desperta.
Numa terra acostumada ao “tapinha nas costas”, ao elogio fácil, ou a pura hipocrisia, não parece ser interessante destilar os comentários irreverentes do autor de Aqui entre nós, e é fácil perceber isso, há uma espécie de auto-proteção e um corporativismo para encobrir e escamotear as nossas mazelas. E Franklin expõe essas mazelas. “O spleen de Natal” ou de “Poemas diabólicos e dois temas de satã”. Não estou dizendo, bem entendido, que ele acerte sempre, mas me refiro à tonalidade de seus comentários e sua postura que são tratados ou relegados para passarem como indiferentes.
Em um país em que se cultiva, alimenta e realimenta a corrupção e a falta de ética permanentemente no trato da coisa pública, certamente que não é de bom tom querer ver alguém apontando o dedo para essa chaga. Consequentemente quem se coloca como juiz cidadão não é bem visto. A sociedade se auto protege desse tipo de pessoa.
Mas o que esperar dos nossos “donatários” atuais, se eles não demonstram o menor interesse para com o coletivo, com a formação cultural, com a educação, com a leitura? Talvez eles estejam apenas repetindo freudianamente o nosso primeiro donatário, João de Barros, que recebeu 100 léguas de terra (a terra que viria a se chamar Rio Grande do Norte) da Coroa portuguesa e nunca pôs os pés aqui. O descaso para com o que é nosso vem de berço, e é alarmante, indecoroso, permanente e infindável. Ainda bem que há pessoas como Franklin Jorge, o que pode apontar ou dizer que nem tudo está perdido.
Em Franklin e seus textos não vemos a dubiedade, o famoso “toma lá da cá”. Não tem jogos de interesses tão comuns por essas bandas, espelhando e refletindo o slogan jornalístico: se for do meu interesse eu não critico, mas se contrariar os meus interesses eu lanço pedras, eu critico. E muitos desses ainda se dizem socialistas. Percebam o tamanho do interesse particular. Com Franklin e os seus textos sem firulas, estamos certos de que o desnudamento da nossa hipocrisia terá sempre um aliado de primeira hora. É um conforto para quem pensa e ainda sonha com um estado diferente.
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