O suicídio foi um ato de coragem protagonizado pelo político que errou muito e cometeu pecados graves, mas nunca transigiu com roubalheiras, nunca barganhou nem se acumpliciou com ladrões. Lula fez da corrupção endêmica um estilo de governo e um instrumento de poder. O tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o coração de um homem honrado. Getúlio matou-se por ter vergonha na cara. Lula morrerá sem saber o que é isso.
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Por Augusto Nunes - Veja Online
Entre uma palestra patrocinada por empreiteiros amigos e uma cobrança a algum ministro de Dilma Rousseff, Lula repetiu a comparação que agride a verdade e insulta a memória de um dos raros estadistas nascidos no deserto de homens e de ideias: “Querem fazer comigo o que fizeram com Getúlio Vargas”, acaba de recitar, mais uma vez, o palanque ambulante. Tradução: a sucessão de escândalos produzidos por abjeções que assaltam cofres públicos há oito anos e meio é apenas uma invencionice dos netos da UDN golpista, que se valem de estandartes moralistas para impedir que o pai dos pobres se mantenha no poder.
A conversa fiada identifica o ignorante que não hesita em estuprar os fatos para fabricar vigarices eleitoreiras. Não há qualquer parentesco entre os dois Brasis. Sobretudo, não há nenhuma semelhança entre os personagens históricos. Em agosto de 1954, Getúlio Vargas era sistematicamente hostilizado por adversários que lhe negavam até cumprimentos protocolares. Não há uma única foto do presidente ao lado de Carlos Lacerda. Passados 66 anos, os partidos antigovernistas fizeram a opção preferencial pela pusilanimidade e inventaram a oposição a favor. Merecem uma carteirinha de sócio do Clube dos Amigos do Lula, dirigido por velhos antagonistas convertidos em amigos de infância.
Há exatamente 57 anos, surpreendido por ilegalidades praticadas à sua revelia, acuado pela feroz oposição parlamentar, desafiado por militares rebeldes, traído por ministros militares e abalado pela covardia de muitos aliados, Getúlio preferiu a morte à capitulação humilhante. Neste agosto, Lula contempla com o olhar entediado de quem não tem nada com isso o cortejo dos bandidos de estimação capturados pela Polícia Federal ou atropelados por denúncias da imprensa.
O suicídio foi um ato de coragem protagonizado pelo político que errou muito e cometeu pecados graves, mas nunca transigiu com roubalheiras, nunca barganhou nem se acumpliciou com ladrões. Lula fez da corrupção endêmica um estilo de governo e um instrumento de poder. O tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o coração de um homem honrado. Getúlio matou-se por ter vergonha na cara. Lula morrerá sem saber o que é isso.
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