“…Isso não é modernidade, é nepotismo, é política do compadrio, do coronelismo. É atraso do pior tipo possível.” ( Senador Jarbas Vasconcelos -PMDB-PE)
Com 222 votos, Ana Arraes (PSB-PE) venceu a disputa pela poltrona no TCU. Seu principal rival, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) só obteve 149 votos.
Ana é advogada e servidora do Tribunal de Contas de Pernambuco. Não foram essas, porém, as credenciais que a levaram ao triunfo.
A deputada prevaleceu graças à sua condição de mãe, uma carreira que dispensa exames psicotécnicos, cursos universitários e antecedentes funcionais.
Deve-se ao suor derramado pelo governador Eduardo Campos, filho de Ana, a eleição de uma mãe para ministra do TCU.
Em Brasília desde a véspera, Eduardo foi celebrado por outros governadores e líderes partidários na casa oficial do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).
Convocado para discutir o projeto que regula os investimentos na saúde, em votação na Câmara, o encontro virou, por um instante, palco do triunfo do filho.
Adversário político de Eduardo, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) divulgou uma nota. No texto, usa vocáculo que permeia o processo de escolha de Ana: “Nepotismo.”
“Infelizmente, o resultado da eleição para o TCU é o retrato do Brasil em que vivemos”, anotou Jarbas.
“Vivemos num país que precisa dar um salto de qualidade, sem corrupção, sem aparelhamento do Estado e sem nepotismo…”
“…Mas o meio político brasileiro vai no caminho inverso, anda na contramão do século 21.”
Mais cedo, a mãe-ministra dissera meia dúzia de palavras sobre o tema. Para Ana, se existe nepotismo, ele foi como que lavado no plenário da Câmara:
“Se o nepotismo é feito pelo povo, então é o voto do povo. [...] É uma honra criar um filho como Eduardo." Ela disse que, em sua casa, há "sentimento de família."
E Jarbas: “Quando chegar uma determinada conta do governo Eduardo no TCU, qual será a postura da nova ministra? Ela estará sempre sob suspeição…”
“…Isso não é modernidade, é nepotismo, é política do compadrio, do coronelismo. É atraso do pior tipo possível.”
Nas últimas semanas, Eduardo dividiu-se entre Recife e Brasília. Para Jarbas, ao trocar “seus afazeres” pela articulação da mãe, o rival flertou com o “absurdo”.
“Não é uma coisa natural, não é uma prática republicana. É um exemplo do vale-tudo na política…”
“…Se o que ocorreu na Câmara nas últimas semanas não é nepotismo, não é abuso do poder político e uso da máquina, eu não sei mais o que é.”
E Ana: "Pergunte ao povo de Pernambuco como ele está satisfeito. Ele [Eduardo] tem 92,5% de satisfação da população."
Aprovado na Câmara, o nome da mãe vai agora ao Senado. Ali, a despeito da contrariedade de Jarbas, é improvável que seja rejeitado.
Além do apoio do filho, Ana dispõe de outro padrinho forte. Ela conta que Lula é um dos mentores de sua candidatura.
Diz que foi o ex-soberano quem a procurou para estimulá-la a entrar na disputa. Assim, resta encomendar o vestido da posse.
Graças ao filho e ao padrinho, Ana ocupará um cargo vitalício. O salário é bom: R$ 25 mil mensais. As férias, generosas: dois meses por ano.
Os benefícios assemelham-se aos de deputada: gabinete bem estruturado, carro oficial e cota de passagens.
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