Quando a oposição é muito ruim, o governo, mesmo medíocre, avança

Enquanto uma parte da cúpula do PSDB sabota a própria cidadela, a presidente Dilma Rousseff avança no território mais simpático aos tucanos. Como vocês viram, a direção do PSDB pagou a peso de ouro uma pesquisa, cujos dados foram vazados para a imprensa, que esculhamba o próprio partido, além de alimentar a guerra interna. De modo extemporâneo, inexplicável, indagou-se o que aconteceria se Dilma, que não sai da televisão, disputasse hoje a eleição com José Serra, banido dos meios eletrônicos. O percentual dele caiu um pouco, claro!; o dela subiu. O PSDB não foi curioso o bastante para saber qual seria a votação do senador Aécio Neves (MG) depois de quase um ano de Senado. Por que não? Isso é guerra de tucanos. Há 10 anos estão nessa, com os resultados conhecidos. Sigamos.

No fim da semana passada, o Ibope divulgou uma pesquisa sobre a popularidade de Dilma e seu governo, feita para a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice de ótimo e bom cresceu de 48% há dois meses para 51%. Estando certos os números — e eles me parecem coerentes com a realidade —, a popularidade de Dilma caiu no Nordeste e Norte/Centro Oeste (de 52% para 50% e de 46% para 43%, respectivamente) e subiu no Sul e Sudeste (de 45% para 57% e de 47% para 54%, respectivamente). Vejam só: a Nordeste, que sempre garantiu a Lula sua estratosférica popularidade, é hoje mais severo com Dilma do que o Sul e Sudeste. Isso não é irrelevante. Ao contrário: é um dado relevantíssimo! Tanto Luiz Inácio Apedeuta da Silva como os tucanos têm o que lamentar. Vamos ver.

Esses dois meses coincidem com o período mais intenso daquilo a que se chamou faxina. Embora Dilma tenha desistido da bandeira moralizadora, o fato é que ela demitiu alguns ministros acusados de atos ilícitos ou, ao menos, pouco probos. E a população do Sul e Sudeste, menos dependente da máquina assistencialista do governo e um pouco mais atenta — por razões que são de fundo econômico — à pauta da moralidade pública, reagiu de modo positivo. Antes que me estenda um pouco mais sobre isso, noto: não há nenhuma razão, nenhuma mesmo!, para o Nordeste e o Norte/Centro serem mais severos com Dilma. Só uma coisa explica o resultado: Lula sabia explorar de modo mais eficaz a propaganda sobre o assistencialismo. Também é um comunicador mais eficiente. Ela não obtém os mesmos índices que ele só por… não ser ele.

No Sul e Sudeste, a coisa muda um pouquinho de figura. A reação às denúncias de corrupção fizeram bem à imagem de Dilma. Uma boa parte do eleitorado nem quis saber se, afinal, ela própria havia nomeado aquela gente toda. O fato que demitiu a turma. E aqui cumpre lembrar uma coisa importante: Lula atuou ativamente para impedir as demissões. Deu sinais evidentes de que estava contrariado com a ação da sucessora. Os partidos correram para pedir o seu auxílio. Vale dizer: se Dilma lhe tivesse dado ouvidos, é provável que sua popularidade tivesse caído nas regiões Sul e Sudeste, sem que colhesse resultados diferentes no Nordeste e Norte/Centro-Oeste.

Então volto lá ao primeiro parágrafo. Lula, que é o candidato de Lula em 2014, por mais que negue (age como quem é, e isso é o que importa), tem razões para não gostar dos números. E o PSDB — ou as oposições — têm motivos para se preocupar. Dilma pode estar conquistando fatias do eleitorado do Sul-Sudeste refratárias ao Apedeuta. Enquanto os tucanos se sabotam e se dedicam a um curioso exercício de “resgate” do passado como linha de frente de sua conduta oposicionista — uma coisa é prezar a própria história; outra é fazer um discurso com 10 anos de atraso —, a petista Dilma avança na cidadela do partido. Talvez os tucanos, reunidos numa Kombi, reflitam em 2021 sobre os erros de 2011…

Escrevi aqui no dia 26 um texto com um título longuíssimo — “A verdade insofismável é que Dilma é ruim de serviço e angaria algumas simpatias só por não ser Lula; é um bom motivo, claro!, mas insuficiente. E a oposição baba na gravata” — em que listava uma penca de ineficiências do governo, que pedem, obviamente, uma postura mais clara da oposição. Cadê? Fora das denúncias de corrupção — é claro que é preciso apontar as irregularidades também —, não se vê quase nada. A pesquisa Ibope indica que o governo conseguiu reverter o tema da corrupção a seu favor — justamente no Sul e Sudeste.

Enquanto isso, cumpre indagar: de que mesmo andam se ocupando as oposições no momento? Constata-se uma coisa óbvia: com uma oposição muito ruim, o governo pode se entregar ao luxo de ser medíocre, como é o governo Dilma.

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