A proposta era de destruição do Estado burguês capitalista, instalação da ditadura do proletariado/campesinato (a APML era maoísta)

Por Mirian Macedo
Meu compromisso é com a verdade, eu não discuto com a realidade, eu a aceito assim como ela se me apresenta. As coisas são como são. Vou contar uma experiência pessoal, com a ressalva de que eu era uma 'inocente inútil', sem qualquer importância como quadro revolucionário.

Fui presa em junho de 1973, em Brasília, pouco antes da prisão de Honestino Guimarães (ele foi visto pela última vez, em setembro daquele ano). Eu fazia parte de uma célula da Ação Popular Marxista Leninista - APML, a mesma organização de Honestino. Na verdade, eu nem sabia direito a que eu estava ligada, o 'segredo' fazia parte das normas da casa. Se alguém caíssse...

Durante alguns meses, eu recebi aulas de doutrinação marxista em reuniões secretas cercadas de rigorosas normas de segurança: tinha de trocar de táxi várias vezes, ninguém sabia ou pronunciava o nome de ninguém, eu não contava nem para o namorado ou gente da família o que fazia etc). Com 19 anos, participar da 'revolução' era o máximo. Passada a fase de aliciamento e doutrinação, eu já estava sendo preparada para a 'práxis': tinha sido escalada para trabalhos com a 'massa', na periferia do Distrito Federal, mas fui presa antes, graças a Deus(sic).

As análises do 'momento histórico' nestas reuniões tinham enfoque nitidamente revolucionário. A proposta era de destruição do Estado burguês capitalista, instalação da ditadura do proletariado/campesinato (a APML era maoísta) ) e nenhuma negociação com a velha ordem burguesa.

Usar os instrumentos da democracia, como eleições, liberdade de imprensa, aparato jurídico, habeas corpus etc - para permitir e acelerar a tomada do poder para a implantação do comunismo - era um dever do militante revolucionário.

Marx e Lênin nos explicavam que 'liberdades democráticas' eram apenas instrumentos da burguesia para oprimir o verdadeiro sujeito da História: o povo trabalhador. (Comunismo democrático é contradição em termos, todos sabemos).

A instalação de uma ditadura comunista era a proposta de todos os grupos de luta armada no Brasil, àquela altura. E também de grande parte da esquerda não engajada diretamente nas organizações. Admitamos e confessemos:todos nós sonhávamos com o comunismo.

A fórmula é esta: a vanguarda revolucionária luta para tomar o poder, que será concentrado em suas mãos para que ela faça as modificações que achar necessárias à transformação radical da vida humana e do mundo. E, por lutar para concretizar tão nobre (e hipótetico) futuro, o revolucionário está acima de qualquer julgamento da espécie humana. No final, a História o absolverá.

Esta é a essência da mentalidade revolucionária até hoje. Esta é a verdadeiro ideologia que a organização a que pertencia Honestino Guimarães professava. Não sou eu que quer assim. É assim, foi assim. As provas documentais de que esta é a verdade estão à disposição de quantos queiram conhecê-la(s). Existem dezenas de páginas só de fontes primárias sobre o assunto.

Se Honestino Guimarães é herói de tantos que o cultuam como 'o mártir que a ditadura militar assassinou', nada tenho a ver com escolhas pessoais. O meu assunto é outro. Eu estou interessada na verdade.
Repito: é inegociável a condenação incondicional da tortura, da violência e do desrespeito aos direitos humanos de militantes da esquerda. O Estado não pode torturar, matar e desaparecer com um único cidadão.

Um comentário:

Anônimo disse...

O discurso de 1975 dos então revolucionários não mudou. A cartilha adotada é a mesma daquela época, ou seja, o decálogo de Lenin!