O estudante Michael Cerqueira de Oliveira, bolsista da escola Lourenço Castanho, em São Paulo, que teve a sua nota de Redação alterada de “anulada” para “880 pontos” (de um total de mil), recebeu do MEC os critérios da correção da prova. O ministério se limitou a reproduzir os quesitos que já eram públicos, acrescentando, e isso não se sabia, que cada um deles vale 200 pontos:
1 - Demonstrar domínio da norma culta;2 - compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo;
3 - Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;4 - Demonstrar reconhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
5 - Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, demonstrando respeito à diversidade e aos direitos humanos
Muito bem! Mas por que a redação de Michael - um rapaz de família modesta, que só tem bolsa numa escola privada porque excelente aluno - tinha sido anulada? Porque o primeiro corretor escreveu em sua prova: “Fuga ao tema”. O estudante recorreu à Justiça, o texto foi relido, e, como se sabe, ele não só “estava no tema” como deve ter tido um ótimo desempenho em cada um dos itens. Lembremo-nos: a redação vale nada menos de 50% da nota do Enem, o que já é um absurdo! Um erro, ainda que nem tão escandaloso como esse, pode prejudicar terrivelmente a vida dos jovens, que já não sabem, em razão da aplicação da tal Teoria da Resposta ao Item (TRI), por que obtiveram, nos testes, essa ou aquela nota. Hoje, a situação é rigorosamente esta: “Façam a prova; pouco importa se vocês vão acertar ou errar: a nota será sempre uma surpresa…
A cada vez que leio esses cinco itens da correção, sou levado a pensar na miséria moral e intelectual do ensino no país. Há muito tempo chamo a atenção para o fato de que o Enem convida o aluno a dissertar sobre uma tese previamente definida, sempre com viés de esquerda. Em nenhum país do mundo democrático um exame público serve como filtro para barrar os que não se orientam pela metafísica do poder. Isso está em curso no Brasil, e é uma vergonha que as escolas privadas ainda não tenham botado a boca no trombone. Estão deseducando os estudantes.
Ora, prestemos atenção àquele quinto quesito da correção: “Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, demonstrando respeito à diversidade e aos direitos humanos”. Digam-me: pode haver algo mais subjetivo do que isso? No raiar de 2009, o governo federal lançou, vocês devem se lembrar, o “Plano Nacional (Socialista) dos Direitos Humanos”. Entre outros mimos, havia lá a defesa da descriminação do aborto - lembro que a Declaração Universal dos Direitos do Homem defende a vida… -, a censura à imprensa e a decretação, na prática, do fim da propriedade privada: no caso de uma invasão, um juiz só poderia determinar a reintegração de posse depois de ouvidos invadidos e invasores… Ou seja: o criminoso era considerado parte da solução.
Muito bem! Um aluno que, por qualquer razão, argumentasse contra a invasão de terras - e em defesa, pois, da Constituição - estaria ou não “respeitando os direitos humanos”? Cito um outro exemplo, este ainda mais polêmico: o autor de uma redação que, sei lá, criticasse o casamento gay, evidenciando que o Supremo, ao tomar a decisão que tomou, desrespeitou um artigo da Constituição, estaria indo contra a diversidade?
Notem: estamos lidando com valores. A sociedade brasileira é plural e pluralista. Não cabe ao Estado - ou a qualquer uma de suas franjas - decretar o “certo” e o “errado” no terreno das escolhas individuais, morais. Um estudante que, no curso de uma argumentação qualquer, defendesse, por exemplo, a ação da Polícia Militar de São Paulo na cracolândia estaria, entendo, fazendo a defesa dos direitos humanos dos moradores da região, dos comerciantes honestos e, sim!, dos viciados. Mas será esse o “valor” de quem está corrigindo a prova? Não é preciso ser muito sagaz para perceber que o quesito nº 5 incorpora como critério objetivo de correção de redação a patrulha politicamente correta.
Ouvia outro dia a conversa de alguns adolescentes que já perceberam como toca a música. Todos eles dominam os, como chamarei?, maneirismos ideológicos do Enem e de boa parte dos vestibulares concorridos. Isso quer dizer que já sabem o que podem e o que não podem escrever. Desenvolveram suas técnicas para passar pela vigilância esquerdopata. Fizeram até uma listinha das coisas que devem ser defendidas e das que devem ser criticadas.
- movimentos ‘occupy’ isso e aquilo”: a favor;
- novo Código Florestal: contra;
- energia eólica: a favor;
- hidrelétricas: contra;
- “consumo consciente”: a favor;
- influência americana no mundo: contra;
- Cuba: a favor…
Um gaiato ainda brincou: “Mulher feia: a favor; mulher bonita: contra”! E veio a galhofa da área feminina: “Homem rico: contra; homem pobre e limpinho: a favor”. E caíram na gargalhada.
Todo o “trabalho de conscientização” das esquerdas nos ensinos fundamental e médio tem servido para criar ou um geração de idiotas - os que levam a sério aquela baboseira - ou uma geração de pragmáticos cínicos, que escrevem aquilo que o “examinador” - eventualmente, o professor - quer ler, ainda que sua convicção seja outra. Ora, por que correr riscos?
Não nos damos conta do absurdo daquele quinto quesito. Um examinador não pode jamais ser um juiz das convicções de um candidato a uma vaga na universidade. Ainda agora, como sabemos, arma-se um cerco ideológico contra a correta atuação da Prefeitura e do governo de São Paulo na cracolândia. Segundo os críticos, manter aqueles pobres zumbis nas ruas é uma questão de respeito aos… direitos humanos!!!
O Enem se transformou no maior vestibular do mundo, orientado por critérios ideológicos e gerido por incompetentes. Uma redação “880″ tinha sido “anulada”. Imaginem quantas tolices anuláveis não ganharam 880 só porque repetiram os chavões e clichês do humanismo oficialista…
Por Reinaldo Azevedo
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