“Só seria candidato a presidente se fosse convocado” Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado.


Enquanto a maioria dos tucanos ainda vive da polarização entre o senador mineiro Aécio Neves e o ex-governador paulista José Serra, Alvaro Dias surgiu no noticiário da semana passada como uma nova opção de candidato à Presidência pelo PSDB. Ainda sem postular a vaga abertamente, o paranaense fala em “convocação” da militância e encampa a proposta de que o partido realize primárias para escolha de um nome para 2014.

VÍDEO: Confira trechos da entrevista

Alvaro também admite ter sido “sondado” para concorrer ao governo de Brasília e do Rio de Janeiro. “Mas sair do Paraná está fora de cogitação”, garante. Em entrevista concedida em seu gabinete no Senado, na última quarta-feira (período de recesso parlamentar), ele falou sobre as dificuldades de relacionamento com o governador Beto Richa e disse que, aos 67 anos, ainda não pensa em se aposentar.

O senhor quer ser candidato a presidente em 2014?

Não basta querer. O que vale é convocação. Não é hora de definir nomes e colocar postulações pessoais. Precisamos definir o processo de escolha, o mais democrático possível. E eu não tenho nenhuma dúvida de que o modelo adequado, e até o modelo de salvação da oposição, é o das eleições primárias. É o caminho para a construção da unidade partidária, a única forma para revitalização do partido.

Se isso passar, o senhor se colocaria como candidato?

Só me colocaria se fosse convocado. Se houver dentro do partido segmentos propondo meu nome. É constrangedor assumir uma postura de candidato de si mesmo. É evidente que existem outros nomes à frente, que estão nacionalmente mais lançados, como o Aécio [Neves], o [José] Serra, o [Geraldo] Alckmin. Aqueles que já disputaram a Presidência levam vantagem em qualquer pesquisa. A única forma de ser amplamente conhecido do público é disputando eleições. Se adotarmos as primárias, outros nomes que não têm uma participação mais intensa nacionalmente poderão dar boa contribuição ao debate e esquentar o processo eleitoral interno.

As prévias são um remédio para a polarização entre Serra e Aécio?

Ninguém pergunta se há de verdade essa polarização. Só se escreve que há. Mas a militância nunca é consultada. Eu próprio não sei. Por quê? Porque o partido não é feito apenas de governadores, senadores e deputados. O partido é construído pela sua militância. Esses não foram ouvidos sobre a sucessão presidencial.

Então o senhor acredita que a militância não quer essa polarização?

Não creio que a polarização tenha seguidores. Mesmo aqueles que são adeptos de Aécio ou do Serra não gostam dessa discussão, desse cenário de que o partido é disputado por duas lideranças e os demais são massa de manobra.

O senhor chegou a ser anunciado como vice de José Serra em 2010. Se tivesse sido confirmado como candidato, algo poderia ter sido diferente?

Não sei se o resultado, mas o tom da campanha seria diferente. Até porque quando o Serra me comunicou que eu seria o vice, fui autorizado a manter o tom crítico. Nós teríamos certamente uma campanha com um discurso mais forte.

Ser mais crítico na campanha traria pelo menos um legado mais forte para o partido? O PSDB parece meio sem rumo desde 2010.

Nós temos que colher lições da eleição passada. Não é produtivo apenas ficar chorando o leite derramado e discutindo erros cometidos.

Serra vinculou essa decisão à candidatura do seu irmão, Osmar Dias (PDT), ao governo do Paraná. Qual é a verdade dessa história?

Essa é a verdade. O DEM havia concordado com a minha candidatura e o surgimento repentino da candidatura do Osmar passou a ser o pretexto que eles esperavam para reivindicar a vice. Tanto é que isso só aconteceu no último momento. Eu já era o candidato, já estava em campanha.

Como ficou a relação com o Os mar depois desse episódio?

Nosso relacionamento é ótimo. Ainda ontem pela manhã estive com ele no aeroporto em Curitiba e conversamos um pouco. Nada sobre política, mas sobre outras coisas. Alegremente.

É difícil ser líder da oposição e ter um irmão que está no governo?

Nessa posição que ele está [vice-presidente de agronegócios do Banco do Brasil], não. É uma posição mais técnica, em que ele não está exposto politicamente. Não cria constrangimentos. Se ele estivesse num ministério, com problemas sérios, que exigisse discurso forte da oposição, aí sim haveria um constrangimento.

Muita gente comenta que o senhor seria candidato por outro estado em 2014. Alguém procurou o sr. para tratar disso?

A verdade é que há convites, sondagens. No caso de Brasília, houve um convite público. Num evento do PSDB local, o presidente anunciou em nome do diretório que gostaria que eu mudasse de domicílio e disputasse o governo de Brasília. No caso do Rio de Janeiro, o presidente de honra do partido no estado sondou a possibilidade de eu me transferir para lá. Há essas sondagens, mas eu não pretendo deixar o Paraná. Não sei qual vai ser o meu projeto político em 2014. Estou adiando qualquer decisão para 2013, provavelmente metade do ano. Não sei qual a missão que o partido vai me impor. Mas sair do Paraná está fora de cogitação.

O senhor teme não ter legenda no PSDB para se candidatar à reeleição em 2014?

Não temo. É evidente que estou afastado das questões partidárias no estado, em função de algumas circunstâncias. Mas não creio que isso seja um obstáculo para que eu dispute a eleição. Um partido que luta pelo poder não pode ser um clube de amigos. A busca pelo poder nacional é algo que deve ser prioridade absoluta do PSDB. Tem que escalar para jogar aqueles que estiverem em melhor situação junto ao eleitorado. Só teria dificuldades de disputar a eleição no Paraná se eu próprio chegasse à conclusão de que é o momento de parar.

Por que a relação entre o senhor e o governador Beto Richa ficou tão ruim?

Porque não houve o cumprimento de um compromisso que é essencial para a boa relação. Isso ocorreu na fase de escolha do candidato ao governo [do Paraná, em 2010]. Eu não poderia disputar o governo sem o diretório [do PSDB]. Então houve uma prorrogação daquele diretório. Eu disse que aceitaria desde que o candidato fosse escolhido por pesquisa. Houve uma concordância. Nas duas pesquisas que eu apresentei na época eu tinha boa vantagem. Não se respeitou isso e aí eu me afastei. O que eu não concordo é que o projeto nacional ficou no segundo plano, quando deve estar sempre em primeiro lugar.

Então o senhor gostaria de voltar a ter um diálogo com o governador?

Isso no momento adequado vai ocorrer ou não. Não vejo necessidade de antecipar fatos. Nós estamos longe de decidir o projeto eleitoral de 2014 no que diz respeito a nomes. O que eu tenho é que ficar aqui cumprindo o meu dever e aguardando o momento das decisões. Se for para disputar eleições no Paraná, vou disputar. Se eu considerar que é o momento de parar, eu vou parar. Se o partido me convocar para outra competição, também estou à disposição.

O senhor falou em parar muitas vezes nesta entrevista. Está nos seus planos?

Só a população determina se eu devo parar. Não são as injunções partidárias ou os interesses políticos de um e de outro. Por isso eu acho muito difícil que eu pare. Eu confio que a população continua dando respaldo. Se eu estivesse com problemas de saúde, por exemplo, eu pararia. Os adversários dizem que eu tenho uma saúde irritante. Mas eu acho que ainda tenho muita lenha para queimar.

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