Animada, a oposição venezuelana realiza hoje as primárias para a escolha do candidato que disputará a presidência com Hugo Chávez em outubro. Há cinco candidatos e o favorito é Henrique Caprilles, o jovem (39 anos) governador do estado de Miranda, segundo mais populoso do país. O otimismo da oposição é decorrente da disposição por ela manifestada de, desta vez, se unir em torno do vencedor das primárias, aumentando suas chances de fazer frente a Chávez.
Mas, como se sabe, essa é uma tarefa inglória.Chávez está há 13 anos no poder, tem milhões de seguidores no Twitter e, devido ao tratamento do câncer que o acometeu, viu sua popularidade voltar a subir para 58%. E, definitivamente, o homem que transformou a democracia venezuelana numa virtual ditadura não está preparado para perder nas urnas. O professor de Ciência Política e Relações Internacionais Rafael Duarte Villa, da USP, disse ao GLOBO que, ao contrário de Fidel Castro em Cuba a partir dos anos 90, Chávez não preparou sucessores porque "não pensou na morte, nem na dele nem na do chavismo".
Mas parado Chávez não está.E as providências que está tomando são preocupantes.
Uma delas foi nomear o general Henry Rangel Silva, afinadíssimo com o chavismo, para o Ministério da Defesa. Rangel é o mesmo que, em 2010, causou revolta entre venezuelanos ao declarar que "um hipotético governo da oposição a partir de 2012 não seria aceitável pelas Forças Armadas".
A frase justifica temores em relação às opções que os venezuelanos terão pela frente. Se Chávez ganhar no voto, aprofundará seu "socialismo do século XXI", fortíssimo em demagogia e desastroso em resultados — o país é hoje o campeão sul-americano da violência e enfrenta problemas de desabastecimento, inflação anual de 33%, ineficiência de uma economia altamente estatizada e sucateamento de sua principal empresa, a petrolífera PDVSA, inchada pelo aparelhamento chavista.
Se o presidente perder, entra em cena a declaração do general Rangel. Para bom entendedor, a derrota de Chávez seria a senha para um golpe militar, algo que, felizmente, tornou-se estranho à atual agenda política da América Latina. Mas que, no caso venezuelano, não pode ser descartado.
Ao contrário da transparência com que têm sido tratados os problemas de saúde de outros líderes latino-americanos, a doença de Chávez está envolta em segredos.
O governo de Caracas não informa se tem havido progresso ou não no tratamento, realizado em Cuba. Diante disso, não é despropositado pensar no que aconteceria no caso de impedimento ou morte do primeiro mandatário. Uma razoável possibilidade é a entrada em cena do dispositivo militar que lhe é fiel, para garantir a continuidade do chavismo. Em outras palavras, um golpe e uma ditadura de fato.
Com uma boa dose de otimismo, pode-se imaginar a vitória em outubro da oposição, no voto, e o respeito à voz das urnas por parte de um Hugo Chávez alquebrado pela doença. Mas parece difícil.
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