Rio+20=0
Guilherme Fiuza é jornalista e autor de vários livros, entre eles “Meu Nome não é Johnny”, adaptado para o cinema. Neste blog, trata de grandes temas da atualidade, com informação e muita opinião principalmente sobre política.
(ÉPOCA
– edição 735)
Às vésperas
da conferência Rio-92, 20 anos atrás, o secretário-geral da Cúpula da Terra,
Maurice Strong, sentenciou: “Esta é a nossa última chance de salvar o planeta.”
Agora, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, avisa que a Rio + 20 é a “única
oportunidade” de garantir um futuro sustentável. Do jeito que as coisas vão, a
Rio + 40 será a última oportunidade de salvar o mundo dos ecoburocratas, que
estão cada vez mais contagiosos e letais.
Os
negociadores dos mais de 130 países representados na conferência estão
preocupados. Vários deles já disseram que a grande questão a ser decidida na
Rio + 20 é quem vai financiar o desenvolvimento sustentável, com quanto
dinheiro. E que não há acordo à vista sobre isso. Talvez seja necessário
responder a outra questão antes dessa: quem vai nos salvar dessas festas
ecológicas milionárias que não decidem nada? Quem vai dar um basta nesses
banquetes insustentáveis que discutem sustentabilidade?
Ninguém
segura a patrulha da bondade e seu alegre circo do apocalipse. No picadeiro da
salvação sempre cabe mais um. É aquela oportunidade valiosa para os ativistas
de si mesmos descolarem mais um flash por um mundo melhor. O oportunismo é
verde. Cientistas políticos gritam que o tempo está se esgotando, artistas
buscam sofregamente algum bordão conceitual, mesmo que se atrapalhem um
pouquinho – como na célebre frase de uma cantora de MPB em momento ético: “O
problema do Brasil é a falta de impunidade”.
Enquanto
a feira de lugares-comuns e o show de auto-ajuda planetária evoluem na avenida,
o mundo piora. A crise nascida na Europa veio mostrar que a farra estatal é
boa, mas um dia a conta chega. Com a licença dos ecologistas: pode ser a última
chance de se descobrir que não é o Estado que sustenta a sociedade, mas o
contrário. E que não existe Estado forte com sociedade fraca. Pois é nesse
momento de alerta contra os governos perdulários que se monta o colossal almoço
grátis da Rio + 20. Um banquete para discutir o desperdício. Haja
sustentabilidade.
O que
quer a faminta burocracia verde, com seus sábios fashion de bolinha vermelha na
testa e seus relatórios sobre o fim do mundo? Quer a Bolsa Ecologia. Quer mais
dinheiro do contribuinte para mais relatórios, mais comissões, mais mesadas
para ONGs, mais conferências coloridas e animadas. Enquanto isso, a vida real
vai muito bem, obrigado, para monstros como a usina hidrelétrica de Belo Monte
– uma estupidez ecológica, uma aberração econômica e um monumento ao
desperdício estatal. O custo cada vez mais insustentável da energia nuclear
também não é problema para os abastados anfitriões da Rio + 20, como indica a
construção de Angra 3 – cujo lixo radioativo tem garantia até a Rio + 2020.
Passaporte para o futuro é isso aí.
Duas
décadas de sustentabilidade conceitual não chatearam os vilões reais. Na Rio-92
foram assinadas as Convenções de Biodiversidade e do Clima. A primeira
instituiu o direito das populações tradicionais sobre o patrimônio genético de
suas terras. Enquanto a biotecnologia progride, os povos da maior floresta
tropical da Terra continuam a ver navios no Rio Amazonas. Os royalties que
conhecem de fato são os do contrabando de madeira – porque infelizmente não
podem se alimentar de convenções. Já a Convenção do Clima gerou o que se sabe:
uma sucessão de protocolos sobre redução das emissões de gás carbônico. Cada um
é mais severo que o anterior, devidamente descumprido. Com novos prazos de
carência, as metas vão ficando mais ambiciosas, numa espécie de pacto com o
nunca.
E aí
está a patrulha da bondade em mais uma conferência planetária, reunindo os
melhores especialistas internacionais em sustentabilidade e sexo dos anjos.
Eles vão dizer que o mundo vai acabar e a culpa é sua. Vão mandar você deixar
seu carro na garagem e tomar banho rápido. Não vão falar em controle
populacional, porque isso é de direita. Eles são progressistas, sociais, amam
cada um dos 7 bilhões de habitantes da Terra, que serão 10 bilhões até o fim
deste século, todos muito bem-vindos.
O problema,
claro, é do capitalismo individualista, cheio de egoístas que demoram no banho.
Serão precisos muitos banquetes ecológicos para mudar essa mentalidade.
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