Nem
transformada em abóbora Dilma Rousseff consegue acertar uma frase ─ mesmo
feita. A frase feita — o chavão, o clichê, o lugar comum – é o prêt-à-porter do
mundo das palavras. Um figurino pronto e acabado, no qual é impossível mexer,
seja para melhorar, seja para deformar, porque tal sucessão de palavras já se
cristalizou no tempo e nos costumes, se tornou una, indivisível, imutável.
Na
frase feita, cada palavra sabe onde tem de estar ─ e por automatismo psíquico
as pessoas a assimilam, repetindo-a ipsis literis sempre que um pensamento a
reclama, das expressões populares a versículos bíblicos. Assim também nascem e
se consagram os bordões. Até pessoas sem educação formal, ignaras, analfabetas
mesmo, têm a capacidade de repetir um bordão sem hesitação, tartamudeio ou mau
enunciado ─ ok, esta semana, o prefeito de Palmas, na CPI do Cachoeira,
queixou-se de ser um “boi expiatório”. Mas estava sem dúvida sob o terrível
stress de se sentir acuado por uma CPI que não acua ninguém.
Em
Maragojipe, na Bahia, o momento não era de stress, mas de festa: o batismo da
Plataforma P-59. Em meio a uma miríade de plataformas imaginárias – as seis mil
creches, os três milhões de casas, a Ferrovia Norte-Sul e múltiplos etc ─ a
P59, felizmente, já tem vida própria, ou quase: ainda falta ser levada ao poço
Peroá Profundo, no litoral do Espírito Santo, para perfurar a até 9.144 metros
de profundidade.
Antes
de comemorar, é bom lembrar do petroleiro João Cândido, lançado ao mar por Lula
e recolhido no mesmo dia — sob risco de cruzar com a P59 no caminho vertical —
para reparos básicos de 300 milhões de dólares. Os construtores do fiasco devem
ter levado a sério o coro então puxado por Lula no estouro da garrafa de
espumante contra o casco:
– É
pique, é pique. É pique, é pique, é pique…
De volta
ao raso. Dilma, exultante, trocando juras de amor com os operários logo no
começo do vídeo ─ desconfio que o macacãozinho abóbora que lhe arrumaram venha
a ser o destaque absoluto da sexta-feira 13 no Diário de Dilma de julho, mas
essa é outra história.
Nossa
história, aqui, tem início aos 3:56 deste vídeo – após penosos minutos
satanizando “eles”, ou seja, o resto do mundo, que cisma de estar em crise,
“cortando 30% dos salários dos vereadores”.
Dilma
quer repercutir mais uma redução de meio ponto na taxa Selic. Para colorir o
feito, ocorre-lhe valer-se do mais surrado bordão criado por seu mentor e
padrinho, “nunca antes na história deste país”. Os peixinhos de um aquário
doméstico colocado diante da TV nos últimos oito anos saberão repetir as seis
palavras exatamente nesta ordem – inclusive o “deste”, que Lula aprendeu a
muito custo.
Não
Dilma:
“Os
juros nesse país estão num nível que nunca antes, como diria Lula, na história
desse país eles atingiram”.
Não,
nem Lula diria isso. Seria o caso de perguntar à presidente: que país é esse,
se não é este?
É capaz
de feitos históricos, como o anunciado no final deste vídeo. Afinal,
presidente, como será o Brasil do futuro, o Brasil de Dilma, imune à crise?
“Em primeiro
lugar, vai olhá pro seu povo, pra suas, pra suas, pra sua população, pro seus
brasileiros e pra suas brasileiras. Um abraço no coração. E um beijo também”.
Nunca antes
na história deste país uma presidente falou desse jeito.
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