Na sessão de 16 de abril, como atesta o
vídeo acima, o presidente do Congresso venezuelano, Diosdado Cabello, mostrou
como funcionam as coisas na peculiar democracia bolivariana: os deputados
oposicionistas que contestavam a vitória de Nicolás Maduro só teriam direito à
palavra caso reconhecessem a legitimidade das eleições fraudadas. A pancadaria
ocorrida na sessão desta terça-feira, documentada pelo vídeo abaixo, mostra o
que acontece a quem não se dobra a decisões absurdas..
Durante a sessão convocada para aprovar
a arbitrariedade decretada por Cabello, adversários do chavismo protestaram com
gritos, assobios e uma faixa com os dizeres “Golpe al Parlamento”. A
manifestação desencadeou a fúria da bancada majoritária, origem da troca de
socos qu resultou em pelo menos sete feridos ─ todos oposicionistas. A
deputada Maria Corina Machado, por exemplo, foi hospitalizada com uma fratura
no nariz. Mas as vítimas da agressão não capitularam.
“Podem nos colocar na cadeia, podem nos matar, mas
princípios não se vendem”, avisou o deputado Julio Borges. “Vamos continuar
participando da Assembleia Nacional”, emendou o deputado da
oposição Carlo Ramo no Twitter. “Vão nos tirar feridos ou como quiserem,
mas vamos continuar presentes”. Tampouco o ex-militar Cabello, um velho devoto
do cadáver insepulto que de vez em quando vira passarinho, admite a hipótese do
recuo. Com o cinismo habital, atribuiu as agressões às próprias vítimas da
violência.
Previsivelmente, o governo brasileiro continua acompanhando
com cara de paisagem a marcha para a ditadura. Para os arquitetos da política
externa da canalhice, inaugurada por Lula e encampada por Dilma Rousseff,
parceiros ideológicos são inimputáveis. Tão feroz com o Congresso paraguaio,
que aprovou o impeachment do canastrão Fernando Lugo sem arranhar a
Constituição, o Planalto não vê nada de mais nos sucessivos pontapés no Estado
de Direito desferidos pelos gerentes do espólio do bolívar-de-hospício.
Na semana passada, o chanceler Antonio Patriota reiterou
que não consegue enxergar a rotina de anormalidades. “O presidente Maduro tem
respeitado as normas constitucionais”, miou. (No clube dos cafajestes
cucarachas, gato e passarinho se entendem).”E todos devem submeter-se aos
resultados da eleição presidencial”. Os comunistas à brasileira que infestam o
coração do poder têm muito apreço pelo resultado oficial da eleição, desde que
o vencedor seja um companheiro.
Em fevereiro de 2010, por exemplo, multidões
inconformadas com as patifarias que viciaram a escolha do presidente
expuseram-se nas ruas do Irã à truculência do Exército regular e à cólera das
milícias a serviço dos aiatolás . O mundo civilizado comoveu-se com a coragem
das multidões de manifestantes anônimos. Lula enxergou algo parecido com um jogo
de futebol.
Primeiro, comparou os atos de protesto à reação de
torcedores que não aceitam a derrota do time. Depois, exigiu respeito ao placar
criminosamente adulterado. Nos meses seguintes, oposicionistas que não seguiram
o conselho de Lula foram torturados e mortos. O estadista brasileiro não viu
nada demais. No fim do ano, recepcionou Mahmoud Ahmadinejad com honras de
estadista.
O respeito pelos resultados oficiais é prontamente
revogado se o vitorioso não pertence à seita. Em outubro de 1998, por exemplo,
Fernando Henrique Cardoso impôs a Lula outra surra nas urnas, de novo no
primeiro turno. Mal iniciara o segundo mandato quando o deputado federal Tarso
Genro, em nome do partido, propôs a deposição do presidente reeleito e a
convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
“Fora
FHC!”, berrava a palavra de ordem que o golpista militante tentou justificar
num artig opublicado em janeiro de 2009 pela
Folha de S. Paulo. “O presidente está pessoalmente responsabilizado
por amparar um grupo fora da lei, que controla as finanças do Estado e
subordina o trabalho e o capital do país ao enriquecimento ilegítimo de uns
poucos”, delirou o agora governador gaúcho, que sempre viu com muito entusiasmo
o progressivo desmonte do Estado de Direito na Venezuela.
Como Tarso Genro, o governo brasileiro vê no regime
bolivariano um bom companheiro. E trata o chavismo como se fosse menor de
idade: pode cometer qualquer crime sem medo de ser punido.
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