A vaia de espantar Nelson Rodrigues mostrou a Dilma a cara do Brasil real



“Para Dilma Rousseff, mal começou a descoberta do Brasil real: foi só a primeira vaia”, avisou em 30 de abril a última frase do post sobre apunição sonora sofrida pela presidente em Campo Grande. O neurônio solitário nem passaria perto de campos de futebol se tivesse ouvido a advertência. Como só ouve marqueteiros, áulicos e comparsas, que promoveram a rainha uma supergerente de araque, apareceu no estádio Mané Garrincha, em Brasília, para oferecer aos súditos uma chance de ovacioná-la. Deu no que deu.
Dilma desconfiou que deveria ter ficado em casa quando os torcedores souberam que estava por lá: a vaia começou. Intensificou-se quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, mencionou seu nome. E se tornou espessa, unânime, feroz quando o supercartola perguntou aos “amigos do futebol” onde estavam “o respeito e o fairplay”.
Má ideia: o som do descontentamento subiu incontáveis decibéis e virou uma vaia de espantar Nelson Rodrigues. O alvo do protesto achou melhor cancelar a leitura do discurso escrito por alguém mais clemente com o idioma e — sempre sob apupos estrondosos e ininterruptos, que ampliaram notavelmente a teia de vincos escavados na carranca — limitar-se a declarar aberta a Copa das Confederações.  .
Se a primeira vaia ninguém esquece, a segunda pode ser especialmente dolorosa. Em coro, dezenas de milhares de brasileiros mostraram a cara do país real, destruíram monumentos ao embuste esculpidos por pesquisas encomendadas, ressuscitaram a verdade assassinada e comunicaram a Dilma que a insônia crônica chegou.
Ela vai atravessar a madrugada deste domingo (e muitas outras) remoendo as lembranças do péssimo sábado. E tratará de cancelar todos os compromissos que assumiu como presidente do País do Futebol. Falar coisas ininteligíveis para plateias amestradas não tem contra-indicações. Sabujos só sabem bater palmas.
A Seleção ganhou do Japão, a torcida perdeu de vez a companhia da Primeira Torcedora (e de Lula, claro: ainda traumatizado pela vaia do Maracanã no Pan-2007, ele acaba de ver pela TV o que o espera se estacionar num estádio o palanque ambulante). Para o Brasil, foi um bom começo.
É cedo para saber se o time de Felipão vencerá a Copa das Confederações. Mas os farsantes no poder amargaram uma derrota desmoralizante, definitiva, irreversível. 

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