(O GLOBO)
Os parasitas da nação estão em festa. Os
efeitos dos protestos de rua estão tomando o melhor caminho possível (para
eles): constituinte, plebiscito, pré-sal… Os parasitas estão gargalhando em
seus gabinetes. Sempre souberam que embromariam a multidão, mas não esperavam
que fosse assim tão fácil.
Ao fim da primeira semana de
manifestações, Dilma foi à TV. Nas ruas, os protestos contra o aumento das
passagens de ônibus mostravam o óbvio: a volta da inflação enfim tirara os
brasileiros de casa. O transporte era só o item mais visível da escalada de
preços em todos os setores. A vida ficou mais apertada – e a paciência acabou.
Como todos sabem (ou deveriam saber), o governo popular abandonou a meta de
inflação para irrigar sua formidável máquina de dezenas de ministérios. Mas na
TV, Dilma parecia uma porta-voz dos revoltosos.
A presidente disse que os anseios das ruas
eram os mesmos do seu governo. É preciso coragem para soltar um disparate
desses sem gaguejar. O tal governo que anseia por mudanças governa o país há
dez anos. E Dilma não deu uma palavra sobre gastos públicos – ou, em português,
sobre a orgia orçamentária que seu partido preside no Estado brasileiro. Pregou
a melhoria dos serviços públicos (supostamente os do Brasil), no momento em que
seu governo bate mais um recorde de despesas – como sempre reduzindo os
investimentos e aumentando o custeio (a verba dos companheiros). É preciso
muita desinibição.
O projeto parasitário é desinibido porque
a opinião pública é trouxa. E o pronunciamento da presidente foi engolido pelos
brasileiros, incapazes de relacionar a inflação e a queda dos serviços com a
administração perdulária e inepta da grande gestora.
Se o movimento que encanta o país fosse
minimamente lúcido, cercaria o Palácio do Planalto depois desse pronunciamento.
Poderia anunciar, pacificamente, que só sairia de lá com a extinção de pelo
menos cinco ministérios inúteis, mantidos para alimentar correligionários. Ou
com o compromisso da presidente de voltar a respeitar a meta de inflação. Ou
denunciando o escândalo da “contabilidade criativa”, pelo qual o governo do PT
passou a fraudar seu próprio balanço – seguindo a escola Kirchner-Chávez –,
escondendo dívidas para poder gastar mais com cargos e propaganda.
Será que os heróis das ruas não percebem
que é isso o que mais infla o custo de vida (e as passagens de ônibus)?
Não, não percebem. Uma líder do movimento
declarou ao “Jornal Nacional” que a próxima prioridade era a reforma agrária…
Aí os parasitas estouraram o champanhe. Era a senha para mandarem Dilma tirar
da cartola uma constituinte: reforma política! (mesmo balão de ensaio usado por
Lula quando estourou o mensalão). E o truque colou. Tiraram a constituinte de
cena, mas deixaram o Brasil entretido no debate lunático sobre um plebiscito do
crioulo doido. De brinde, Dilma prometeu transformar a “corrupção dolosa” em
crime hediondo. Eles venceram de novo.
Enquanto gritam por cidadania, educação,
dinheiro do pré-sal e felicidade geral, os revoltosos urbanos estão absolvendo
Rosemary Noronha – a protegida de Lula e Dilma na invasão fisiológica das
agências reguladoras (responsáveis pelos serviços que a presidente promete
melhorar…). Estão absolvendo as quadrilhas que dominaram o PAC – reveladas pela
CPI do Cachoeira, que Dilma abafou e nenhum manifestante reclamou. Estão
chancelando todos os denunciados na época da faxina imaginária que continuam
dando as cartas no governo, como o ministro do Desenvolvimento Fernando
Pimentel. Os revoltosos estão sancionando a sucção e cantando o Hino Nacional.
Fica então uma sugestão de pergunta para o
plebiscito: o Brasil prefere ser roubado por corrupção dolosa ou indolor?
Um comentário:
O projeto parasitário é desinibido porque a opinião pública é trouxa. Fiuza, na mosca, prá variar!
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