"As digitais da gestão Dilma"
(desastrada gerente de araque), editorial do Estadão
16/07/2013 07:59
Entre as muitas distinções duvidosas que
hão de marcar o primeiro - talvez o único - mandato da presidente Dilma
Rousseff, está o ato da administração federal que levou o pânico a milhões de
brasileiros, como não se via desde o catastrófico anúncio do confisco da
poupança, há 23 anos, sob o governo Collor.
No fatídico 16 de março de 1990, o
grosso da população foi induzido a acreditar que, a partir de então, teria de
viver com Cr$ 50 mensais até a liberação dos recursos sequestrados, prevista
para daí a 18 meses. No dia 18 de maio último, uma parcela dos cerca de 50
milhões de inscritos no Bolsa Família (ou 13,5 milhões de famílias) foi
induzida a acreditar que o programa estava para ser extinto - o que provocou
uma corrida aos postos de pagamento do benefício em 13 Estados, com filas
enormes, tumultos e depredações.
No caso da poupança, tratava-se, não
obstante a trapalhada da comunicação, de um fato real. No caso do Bolsa
Família, tratou-se de uma inverdade que se alastrou com a rapidez e o alcance
característicos das comunicações em redes sociais, a partir de uma mensagem
disparada por uma internauta de Cajazeiras, na Paraíba, conforme apurou a
Polícia Federal (PF).
O falso rumor sobre o fim próximo do
Bolsa Família não surgiu do nada. Confirmando o que se veio a saber graças à
imprensa - e que a cúpula da Caixa Econômica Federal, mentindo, ocultou
enquanto pôde -, a PF apontou como origem da boataria as mudanças feitas pela
instituição nas datas escalonadas dos pagamentos mensais do benefício e as
alterações em cadastros de inscritos pelas prefeituras dos respectivos
municípios. Foram os únicos mencionados no "conjunto de fatores
desassociados" que alarmaram os bolsistas.
Os federais deixaram claro que a
investigação completada em 54 dias tinha por objetivo verificar se houve crime
por trás da corrida aos caixas eletrônicos naquele final de semana de maio; não
se técnicos da Caixa, por incompetência ou indiferença ao destino dos seus
clientes compulsórios, fizeram uma barbeiragem (digamos assim) ao antecipar
pagamentos programados para o fim do mês - sem avisar os seus superiores, ao
que tudo indica, e, muito menos, a população interessada. Se antes não houve
crime, depois foi um festival de leviandade e exploração política.
A ministra da Secretaria de Direitos
Humanos, Maria do Rosário, foi a primeira a dizer o que não sabia nem devia.
Pavlovianamente, culpou a "central de notícias da oposição" pela
produção e distribuição do rumor que tirou do sério muitos milhares de famílias
dependentes do programa.
Repreendida a mando da presidente,
Rosário recuou. Mas, no dia seguinte, o seu colega da Justiça, o petista José
Eduardo Cardozo, recorreu à sua coleção de advérbios para insinuar que houve,
sim, uma conspirata.
"Evidentemente", entoou,
"houve uma ação de muita sintonia em muitos pontos do território nacional,
o que pode ensejar a avaliação de que alguém quis fazer isso deliberadamente,
planejadamente, articuladamente." Dilma guardou-se de chegar a tanto, mas
afirmou que "o autor" do boato é alguém "absurdamente
desumano" e "criminoso também". O seu preceptor Luiz Inácio Lula
da Silva preferiu um tom mais filosófico.
"O Brasil tem milhões de pessoas
boas, decentes, e tem gente assim. Gente que veio ao mundo para fazer o
mal." Enquanto isso, corria a maldade deliberada, planejada e articulada,
como diria o ministro Cardozo, de que uma empresa de telemarketing do Rio de
Janeiro teria sido contratada - decerto pelos inimigos do governo - para
injetar em quantas linhas telefônicas pudesse a mensagem apocalíptica sobre o
Bolsa Família.
Nada mais natural que, divulgado o
relatório da PF, nenhum dos personagens referidos tenha tido a decência
elementar de vir a público reconhecer o seu "erro", para repetir o
eufemismo a que Lula recorreu quando os companheiros foram flagrados pagando o
mensalão, o Bolsa Família dos aliados corruptos. Tampouco a direção da Caixa
quis se manifestar sobre essa combinação perfeita de irresponsabilidade
administrativa, má-fé política e, afinal, impunidade - as inconfundíveis
digitais deste
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