Helena Borges
Revista Veja
Pablo Santiago
Capilé Mendes, de 34 anos, vive em dois mundos. No circuito Fora do Eixo (FdE),
nome da comunidade que fundou e da qual é líder com status de guru, ele diz ser
politicamente apartidário e defende a independência financeira do grupo a ponto
de, dentro dele, fazer circular um dinheiro de mentirinha, o card. A “moeda”
serve para “remunerar” o trabalho de cerca de centenas de jovens que moram nas
25 casas do FdE, espécie de repúblicas de muros grafitados onde tudo é de todo
mundo -- incluindo as roupas, guardadas em um armário único e à disposição do
primeiro que chegar.
Já no outro mundo em que vive, Capilé é um
“companheiro”, como se referiu a ele o presidente do PT, Rui Falcão, e o
dinheiro com que lida não só é de verdade como vem, em boa parte, dos cofres
públicos.
O mais recente empreendimento do Fora do Eixo, por exemplo
-- uma casa inaugurada em Brasília no mês de junho para hospedar convidados
estrangeiros e a cúpula da organização --, foi montado com dinheiro da Fundação
Banco do Brasil. A título de convênio, a fundação repassou à turma de Capilé
204.000 reais destinados, segundo sua assessoria, a “estruturação do local,
salários de educadores e implementação de uma estação digital”. O Fora do Eixo
tem outras duas dezenas de casas espalhadas pelo Brasil em lugares como
Fortaleza, Porto Alegre e Belém do Pará. Não tão chiques nem tão bem
aparelhadas quanto a de Brasília, elas abrigam, no mesmo esquema da casa de São
Paulo, jovens que trabalham voluntariamente para a organização.
Parte deles atua no Mídia Ninja, grupo que ficou
conhecido por fotografar, filmar e transmitir pela internet em tempo real os
protestos de rua de junho. Outra parcela, bem maior, trabalha na organização e
na divulgação de atividades culturais, como os festivais de música -- o negócio
mais forte do Fora do Eixo, e o caminho mais curto para o dinheiro público.
Para chegar até ele, Capilé conhece bem os atalhos. Site da Revista Veja
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