Não são vândalos, imbecil. São as FARC!


Gloria Barreto Bernal (foto[*], de 60 anos, plantou-se com os braços abertos em forma de cruz ante uma horda de energúmenos que lapidava e tratava de eliminar um grupo de policiais encurralados contra um muro.
ESCRITO POR EDUARDO MACKENZIE | 09 SETEMBRO 2013
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
Esse incidente mostrou algo mais: a Polícia encurralada e humilhada por um punhado de criminosos. Não é isso que precisamente querem os chefes das FARC, que gesticulam em Havana e exigem a paralisação e a “redução” da força pública?

Na tarde de 29 de agosto de 2013, não houve na Praça de Bolívar alma mais valente e nobre que a dela. Sem proteção alguma, armada só de seu valor pessoal e de seu desejo de parar o mal com um gesto de desprendimento e de oferta de sua própria vida, Gloria Barreto Bernal (foto[*], de 60 anos, plantou-se com os braços abertos em forma de cruz ante uma horda de energúmenos que lapidava e tratava de eliminar um grupo de policiais encurralados contra um muro.
A “manifestação camponesa” desse dia em Bogotá chegava a seu fim e os golpeadores profissionais, os “vândalos”, como a imprensa os chamou, haviam rodeado um punhado de policiais anti-motim do ESMAD: procuravam cindir o grupo para tomar um ou dois reféns e fazer mingau com o resto. Quando, de repente, Gloria Barreto Bernal, apesar da chuva de projéteis, apareceu. Pôs-se ao lado dos agredidos disposta a deter com sua presença, embora fosse por alguns segundos, as mãos assassinas.
Ela sabia que podia ser gravemente ferida ou morrer no ato? Ela estava longe de saber que nesse mesmo dia, lançadores de pedras como os que ela enfrentava, haviam matado um chofer de ônibus em uma rodovia entre Tunja e Paipa. Ela só pensou no risco dos outros. Dois dias mais tarde, a imprensa a procurou e a entrevistou para fazer o elogio desse ato heróico. Ela explicou que viu que os policiais “não tinham nada com que se defender”, que “os rostos dos manifestantes refletiam falta de amor” e uma “fúria interna em seu coração”. E o mais sugestivo: que quando “viu os rostos das mulheres, atrás dos capacetes do ESMAD”, seu “instinto maternal de proteção” a obrigou a dar esse passo em defesa dos policiais. Esses rostos femininos, explicou a um matutino, “lembraram-lhe Antonia, sua filha mais nova de 22 anos”. Mas não foi só isso. Ela queria “que deixassem de agredir [os policiais]por respeito ou porque Deus queria que fosse assim”.
A turba, composta de encapuzados vestidos de civil que se faziam passar por estudantes, lançava contra os policiais imóveis, a não menos de dois metros de distância, com intenção homicida, tudo o que tinham à mão: cadeiras pesadas e mesas metálicas, paus e pedras afiadas trazidas nas mochilas para culminar com um ato sangrento essa manifestação subversiva.
O vídeo que circula hoje no YouTube mostra esses momentos dramáticos. Os atacantes trataram de tirar Gloria Barreto do local para intensificar o apedrejamento sem obstáculos. Dois agressores a prenderam. Ela opôs resistência e no forcejo, enquanto era arrastada para outro setor, laceraram seus braços. Como nesse instante irrompeu um caminhão da polícia, os amotinados fugiram pela Rua 11. Segundos depois, inexplicavelmente, o caminhão do ESMAD se retirou e deixou de novo só, Gloria e os policiais que continuavam agarrados à parede da Casa del Florero. Obviamente a turba voltou, refez a barricada e recomeçou os golpes. Porém, em meio de uma nuvem de gases lacrimogêneos, Gloria avançou para eles. Tratou de abraçá-los para romper de alguma maneira essa onda de ódio e apaziguá-los. Em vão. Um deles investiu contra ela com violência. O vídeo se interrompe nesse instante.  
O que sabemos de Gloria Barreto Bernal? Muito pouco. Que vive no bairro San Cristóbal, do sul-oriente de Bogotá, onde tem um pequeno inquilinato. Que tem duas filhas que já não vivem com ela, que nesse dia tinha ido ao centro para reclamar uma fatura da água e que de repente se encontrou com o violento tumulto. “Eu estava na metade de tudo e minha única defesa era a oração”, disse. Em seu diálogo com uma jornalista indicou que alguns cartazes a haviam espantado: “Havia umas mensagens horríveis e os jovens riam-se da autoridade. Não me agüentei e arranquei o cartaz de um deles e disse-lhe: isso não se faz, rapaz”.
Francisco Ossa, um dos policiais que foi salvo por ela, declarou mais tarde:“Como caída do céu, como um anjo, se pôs na frente dos distúrbios e nos protegeu”. Gloria Barreto acredita no poder da oração e no respeito às instituições. Diz que sua convicção não é a guerra e que está convencida de que “toda autoridade vem de Deus e que por isso deve-se respeitá-la”.
O ocorrido nesse dia nessa esquina de Bogotá tem uma grande força de evocação. Deve ser símbolo de algo. A violenta arremetida dos extremistas contra os policiais, e o gesto magnífico de Gloria Barreto Bernal, nos fazem pensar. Por exemplo, nesse mesmo local ocorreu algo em 20 de julho de 1810 que abriu a marcha dos colombianos para a liberdade: no incidente do floreiro Llorente.
A diferença é que, desta vez, ocorre o contrário ali: os tagarelas que agrediram a Polícia e Gloria Barreto ajudam os que querem interromper essa marcha para a liberdade e destruir o sistema político que os colombianos escolheram, para afundar o país em uma ditadura infame, baseada no abjeto modelo cubano.
Esse incidente mostrou algo mais: a Polícia encurralada e humilhada por um punhado de criminosos. Não é isso que precisamente querem os chefes das FARC, que gesticulam em Havana e exigem a paralisação e a “redução” da força pública? O que vimos neste 29 de agosto não indica que essa paralisação e “redução” já começou nos fatos? 
Entretanto, o gesto de Gloria Barreto Bernal deixa uma nota positiva: mostra que a sociedade, por mais desarmada que esteja, pode ter um papel central na defesa da força pública e na defesa da Colômbia contra os terroristas e seus planos totalitários. Essa seria a maior lição que nos deixam essas fortes imagens e a bela ação de valentia e amor de Gloria Barreto Bernal. Site Mídia Sem Máscara

Nota: 
* - Aqui pode-se ver as fotos do acontecido, publicadas pelo jornal El Tiempo, de Bogotá:http://www.eltiempo.com/Multimedia/galeria_fotos/bogot6/GALERIAFOTOS-WEB-PLANTILLA_GALERIA_FOTOS-13032983.html

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