A greve dos petroleiros, o PT, o PSOL e os dinossauros. Ou: Sem voto, o PSOL sempre está onde o caos e o atraso se anunciam

Por Reinaldo Azevedo - Veja Online

Vocês viram que os petroleiros decidiram deflagrar uma greve com ocupação de plataformas refinarias, bloqueio de estradas. Sei. Então vamos a alguns detalhes que fazem a diferença. Os petroleiros têm hoje duas federações: a tradicional FUP (Federação Única dos Petroleiros), ligada à CUT, que é petista, e a FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), que foi fundada em 2010 e, atenção!, é comanda pela turma do PSOL. São filiados à FNP os seguinte sindicatos: Sindipetro AL/SE, Sindipetro-LP, Sindipetro-PA/AM/MA/AP e Sindipetro-SJC. Quem lhe garante efetivo poder se fogo é o primeiro: esse “LP`” quer dizer “Litoral Paulista”. Se a FUP é ligada ao petismo, a FNP é filiada à CSP-Conlutas, central sindical comandada por PSOL e PSTU. E isso explica ao menos uma das reivindicações dos petroleiros, justamente a mais estúpida: a suspensão do leilão de Libra.

Assim, entendam o seguinte: a petista FUP decidiu se juntar à psolenta FNP para não ser, como se dizia no meu tempo, superada pela esquerda. A FNP acusa a FUP de pelega. E só porque o mundo é engraçado, e a estupidez é a mais imodesta das arrogâncias — e, pois, não têm limites —, há grupos ainda à esquerda do PSOL e do PSTU que já acusam a própria FNP de desvio conservador… O mais inteligente deles ainda acusará Lênin de reacionário e contrarrevolucionário… Sigamos.

Fosse pela vontade da FUP apenas, não haveria a palavra de ordem contra o leilão de Libra. O que o PT queria nessa área já conseguiu: mudar o regime de concessão pelo de partilha. Foi uma toca que já se mostrou infeliz, mas que garante, na cabeça dos petrossauros, o controle sobre o petróleo — o de concessão garantiria igualmente porque a questão é constitucional, mas não entro agora em minudências. Existir, como se faz agora, a suspensão do leilão porque isso seria entregar as riquezas nacionais ao capital internacional é uma estupidez rematada. Muito bem: se o Brasil não pude contar com capital estrangeiro — sempre em associação com a Petrobras — para explorar o pré-sal, vai contar com o quê? Só com recursos próprios? Não só deixaríamos, como país, de receber investimentos como ainda teríamos de torrar dinheiro do Tesouro no custeio da exploração (se houvesse tecnologia, claro).

Trata-se de uma reivindicação à altura da sofisticação do pensamento de PSOL e PSTU. A FUP entrou nessa sem entusiasmo. Prefere se concentrar no pedido de reajuste, de 16,5%.

Memória
O PT instrumentalizou os petroleiros na sua luta insana contra o governo FHC. Em 1995 , organizou uma greve, por intermédio da CUT, que ameaçou parar o país. O governo teve de recorrer a forças federais para impedir o caos. No site da CUT, ainda se encontra esta maravilha de texto, publicado em 2010, por ocasião dos 15 anos da greve. Leiam. Volto em seguida.
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Há 15 anos, no dia 3 de maio, os petroleiros iniciavam a mais longa greve da história da categoria. Uma greve de 32 dias, que tornou-se o maior movimento de resistência da classe trabalhadora à política neoliberal e entreguista do PSDB e do DEM (então PFL). Uma greve que foi fundamental para impedir a privatização da Petrobrás e, assim, evitar que Fernando Henrique Cardoso aplicasse no Brasil o mesmo receituário que levou a Argentina à falência, principalmente, em função das privatizações de todas as estatais de energia e petróleo.
Durante a greve de maio de 1995, os petroleiros resistiram às manipulações e repressões do governo e à campanha escancarada da mídia para tentar jogar a população contra a categoria. Milhares de trabalhadores foram arbitrariamente demitidos, punidos e enfrentaram o Exército, que, a mando de FHC, ocupou com tanques e metralhadoras as refinarias da Petrobrás. A FUP e seus sindicatos foram submetidos a multas milionárias por terem colocado em xeque os julgamentos viciados do TST, que decretou como abusiva uma greve legítima e dentro da legalidade. Além de ter impedido a privatização completa da Petrobrás, como queriam os tucanos e demos, a greve de maio de 95 despertou um movimento nacional de solidariedade e unidade de classe, fazendo ecoar por todo o país um brado que marcou para sempre a categoria: “Somos todos petroleiros”.
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