Após
reconhecer nesta semana que poderá se lançar à Presidência da República após
sua aposentadoria, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim
Barbosa, fugiu do roteiro ontem em visita a uma cadeia de Manaus e foi ouvir
lamentos de parentes de detentos.
O ministro
esteve ontem no Amazonas no encerramento de mutirão carcerário (ações para
agilizar processos de réus presos) realizado pelo CNJ (Conselho Nacional de
Justiça), órgão que preside.
A
presença de Barbosa movimentou um grupo de 20 pessoas que esperavam por
notícias de familiares detidos na cadeia Vidal Pessoa.
"É
o ministro? É ele mesmo?", perguntavam-se duas mulheres, tentando espiar
dentro do prédio centenário, símbolo do caos do sistema carcerário local.
Barbosa apareceu
cerca de 20 minutos depois, pela porta principal da unidade. "É ele mesmo.
Ministro, venha cá conversar, já não sei mais a quem recorrer", gritava
Idalina Soares, 49, colada à grade que separa a calçada do pátio de entrada da
cadeia.
Ministro Joaquim Barbosa, ao lado do presidente do TJ-AM, Ari Moutinho, ouve apelos de mães de detentos na cadeia pública Vidal Pessoa, no centro de Manaus
Barbosa
já estava entrando no carro quando mudou de ideia e foi em direção à grade,
seguido por juízes e um assessor que sacou um guarda-chuva para protegê-lo do
sol do meio dia da Amazônia.
"Seu
ministro, meu filho foi pego por causa de R$ 50. Fez essa loucura e está no
isolamento aí há dias", reclamou Idalina, seguida por um coro de mulheres
pedindo informações sobre parentes.
"Qual
é o nome do seu filho? Anota o nome dele", repetia o presidente do TJ-AM,
Ari Moutinho, ao lado de Barbosa, até então em silêncio.
"Triste,
triste", foi o que disse o presidente do STF nos cinco minutos em que
ouviu os apelos das mulheres.
A
visita à cadeia, que será desativada em 2014, foi realizada a pedido do próprio
ministro. O local foi apontado pelo CNJ como "desumano". São quase
1.500 presos dividindo espaço para 320 pessoas.
Barbosa
já havia sentido o assédio em Manaus pouco antes da visita ao presídio, em
cerimônia do encerramento do mutirão no TJ local.
Em
discurso, enumerou críticas à situação carcerária do Estado -superlotações,
lentidão processual, excesso de presos temporários, condições insalubres.
"A cadeia Vidal Pessoa é um capítulo à parte: prédio centenário, sem
conservação adequada, superlotado e em lugar absolutamente impróprio",
disse.
Uma
correria começou após as formalidades: magistrados e funcionários do TJ
disputavam uma foto com o ministro, jornalistas queriam ouvi-lo. Seguranças e
assessores conseguiram tirá-lo dali por uma porta lateral.
Depois
da visita à cadeia, Barbosa almoçou com autoridades do Amazonas e teve conversa
reservada com prefeito e governador, deixando Manaus ao final da tarde.
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