O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos
representantes e defensores do agronegócio no Congresso, considera-se uma
espécie de primeira vítima da união firmada entre Eduardo Campos (PSB-PE) e
Marina Silva.
Vetado publicamente pela
ex-senadora,
ele desabafou em entrevista à Folha. "Eu botei o pé na calçada
e um carro a 300 Km/h me atropela. Não deu nem para ver [a placa]".
Folha - O sr. foi
rifado?
Ronaldo Caiado - Eduardo Campos me recebeu em Pernambuco, em sua
residência. Assumi, em março, a candidatura dele à Presidência. Fui o único do
meu partido, um dos poucos do Brasil [naquele momento]. Ele disse que iríamos
sair do duelo [governo/oposição], dessa política de identificar inimigo para
ser eleito e prometeu trazer todas as tendências.
Está magoado?
Decepcionado, um balde de água fria. Não temos mais como estar juntos em Goiás.
Não vou ter o pé em duas canoas. Quando conversei com Eduardo, não havia esse
preconceito. Não imaginei esse gesto agressivo da ex-senadora. Essa tese de
inimigo histórico é política talibã.
Haverá consequências?
É espantoso alguém querer pleitear a Presidência e ter essa visão tão
excludente do setor, nacionalmente o maior pilar da economia. Como vou conviver
com uma chapa de candidato a presidente que é preconceituosa com o setor
primário [agronegócio]? Eu sempre fui muito coerente, mas nunca intolerante.
Hoje, não sei identificar se o candidato é Eduardo ou Marina.
O sr. ainda votaria nele
para presidente?
[Silêncio] Não. Dispensou meu voto e está excluindo o setor que represento. Não
tenho como me posicionar favorável a candidato que diz: 'Olha, existe aqui uma
barreira para o produtor rural'. Senti nele uma posição tíbia. Não o reconheço.
Não foi a Marina quem aderiu ao Eduardo, foi ele quem aderiu à Marina.
Não consigo entender uma pessoa querer governar o Brasil e não querer conversar
com representantes de um segmento que é alicerce do país. Eles poderiam, ao
menos, ter me avisado que eu fui vendido.
Isso me faz lembrar do Afonsinho, jogador de futebol. Ele foi substituir Gerson
numa partida no Maracanã. Entra em campo, começa com tudo. Vem o lateral, dá
uma trava nele e diz: 'Ô, seu babaca, você não sabe que esse jogo foi vendido,
não?'. Podiam ao menos ter me dito que eu tinha sido vendido na noite de
sábado. Eu fui atrás da bola, busquei apoio para ele, fiz campanha naquela euforia
toda e, de repente, levo o tranco. Deviam ter me dito: Caiado, acorda, você já
foi vendido! Faltou sinceridade.
Eles telefonaram para mim eufóricos de alegria. Eu disse que não tinha
preconceito.
Não sei se foi uma virose, uma bactéria [risos]. Sábado me ligaram até para
dizer que o governador futuramente me queria ministro da Agricultura. Veja, eu
não estou desenhando algo que não quis ver, não. Eu botei o pé na calçada, e um
carro a 300 Km/h me atropela. Não deu nem para ver [a placa].
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