No dia 9 de abril deste ano, ironizei neste blog o fato de o Brasil ter
criado a “Comissão da Verdade” — que chamei de “Começão da Verdade” — e a Lei
de Acesso à Informação, mas decretar sigilo sobre os empréstimos que o BNDES
faz a Cuba e Angola, dois países “socialistas”. O primeiro é um dos mais
autoritários da Terra (sem deixar de ser corrupto); o segundo, um dos mais
corruptos (sem deixar de ser autoritário). Trata-se de duas ditaduras “amigas”
dos companheiros de Banânia. O que alega o comando do BNDES? Que há cláusula de
confidencialidade com os tomadores de empréstimos? É mesmo, é?
A dinheirama já chega a US$ 6 bilhões (U$S
1 bilhão para Cuba e US$ 5 bilhões para Angola). Não que petistas pudessem
fazer essa coisa horrível de que vou falar agora, mas sabem como é… Cumpre não
criar a oportunidade, né? Digamos que pessoas desonestas decidissem transformar
1% dessa bufunfa em, como posso chamar?, “recursos não contabilizados de
campanha”… Estaríamos falando de US$ 60 milhões — quase R$ 110 milhões. Digamos
que fossem 5%: US$ 300 milhões (R$ 540 milhões). “Você está acusando,
Reinaldo?”
Não! O mensalão, no entanto, permite a
qualquer um ficar desconfiado, não é mesmo? O fato de a administração pública
em Angola ser mundialmente reconhecida como espantosamente corrupta e de Cuba,
por princípio, não prestar contas a ninguém também não ajuda a eliminar
desconfianças. Como esquecer ainda que o “Mais Médicos” vai repassar ao governo
cubano R$ 40 milhões por mês — quase R$ 500 milhões por ano? Em Cuba, isso é
assunto da ditadura e do comando do Partido Comunista, que lhe dá sustentação.
Por aqui, Alexandre Padilha, ministro da Saúde, já afirmou que isso não é
problema nosso — “dos brasileiros”…
No dia 15 deste mês, o jornalista José
Casado escreveu um artigo no Globo a respeito do assunto.
Reproduzo a íntegra.
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Segredos bilionários
Os brasileiros estão obrigados a esperar mais 14 anos, ou seja, até 2027 para ter o direito de saber como seu dinheiro foi usado em negócios bilionários e sigilosos com Angola e Cuba.
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Segredos bilionários
Os brasileiros estão obrigados a esperar mais 14 anos, ou seja, até 2027 para ter o direito de saber como seu dinheiro foi usado em negócios bilionários e sigilosos com Angola e Cuba.
Pelas estimativas mais conservadoras, o
Brasil já deu US$ 6 bilhões em créditos públicos aos governos de Luanda e
Havana. Deveriam ser operações comerciais normais, como as realizadas com
outros 90 países da África e da América Latina por um agente do Tesouro, o
BNDES, que é o principal financiador das exportações brasileiras. No entanto,
esses contratos acabaram virando segredo de Estado.
Todos os documentos sobre essas transações
(atas, protocolos, pareceres, notas técnicas, memorandos e correspondências)
permanecem classificados como “secretos” há 15 meses, por decisão do ministro
do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, virtual candidato do PT ao governo de
Minas Gerais.
É insólito, inédito desde o regime
militar, e por isso proliferam dúvidas tanto em instituições empresariais
quanto no Congresso — a quem a Constituição atribui o poder de fiscalizar os
atos do governo em operações financeiras, e manda “sustar” resoluções que
“exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.
Questionado em recente audiência no
Senado, o presidente do banco, Luciano Coutinho, esboçou uma defesa
hierárquica: “O BNDES não trata essas operações (de exportação) sigilosamente,
salvo em casos como esses dois. Por que? Por observância à legislação do país
de destino do financiamento.” O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) interveio:
“Então, deve o Brasil emprestar dinheiro nessas condições, atendendo às
legislações dos países que tomam emprestado, à margem de nossa legislação de
transparência absoluta na atividade pública?” O silêncio ecoou no plenário.
Dos US$ 6 bilhões em créditos
classificados como “secretos”, supõe-se que a maior fatia (US$ 5 bilhões)
esteja destinada ao financiamento de vendas de bens e serviços para Angola,
onde três dezenas de empresas brasileiras mantêm operações. Isso deixaria o
governo angolano na posição de maior beneficiário do fundo para exportações do
BNDES. O restante (US$ 1 bilhão) iria para Cuba, dividido entre exportações
(US$ 600 milhões) e ajuda alimentar emergencial (US$ 400 milhões).
O governo Dilma Rousseff avança entre
segredos e embaraços nas relações com tiranos como José Eduardo Santos
(Angola), os irmãos Castro (Cuba), Robert Mugabe (Zimbabwe), Teodoro Obiang
(Guiné Equatorial), Denis Sassou Nguesso (Congo-Brazzaville), Ali Bongo Odimba
(Gabão) e Omar al Bashir (Sudão) — este, condenado por genocídio e com prisão
pedida à Interpol pelo Tribunal Penal Internacional.
A diferença entre assuntos secretos e
embaraçosos, ensinou Winston Churchill, é que uns são perigosos para o país e
outros significam desconforto para o governo. Principalmente, durante as temporadas eleitorais.
Por Reinaldo Azevedo
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