Quem policia a Polícia’, de Carlos Brickmann




Mais manifestações, mais quebra-quebras, mais inação da Polícia. Os bandidos estão uniformizados, mascarados, com martelos e marretas, e mesmo assim não são sequer convidados a identificar-se. Quebram equipamentos públicos, põem fogo em ônibus, explodem um carro, ferem gente, viram uma viatura policial, arrebentam vitrines, invadem bancos para depredá-los e ninguém é preso. Cadê o Governo dos Estados, o Governo federal? Há várias hipóteses possíveis:
1 ─ O Governo ordena à Polícia que não intervenha.
2 ─ O Governo ordena à Polícia que intervenha, mas não é obedecido.
3 ─ O Governo ordena à Polícia que intervenha, mas a Polícia não tem condições para intervir.

São hipóteses intoleráveis: indicam que Estados e União estão sem governo.
Ou há ─ e esta é uma outra hipótese, a mais terrível e intolerável de todas: a de que haja autoridades interessadas na confusão e na depredação. Já houve imagens na TV de baderneiros jogando coquetéis Molotov, correndo em direção à Polícia, sendo bem acolhidos e, pouco depois, reaparecendo fardados. Pode ser um caso isolado. Tomara ─ mas, se não for, explica toda a baderna e a inação policial. Nada como agentes provocadores para criar um clima que leve a opinião pública a exigir que as autoridades retomem o controle das ruas e se imponham sobre os vândalos, mesmo com um golpe, mesmo que destruam a democracia.
Resumindo: ou o Governo é irresponsável, ou o Governo é responsável.
Relembrar é preciso
Em 1964, agia nos quartéis o mais famoso agente provocador brasileiro: Anselmo José dos Santos, o Cabo Anselmo. Insuflou a rebelião dos sargentos, levando as Forças Armadas a reagir à quebra da hierarquia e ajudando a convencer a classe média de que o Governo planejava um golpe e deveria ser derrubado.
Bandidos à solta
Há por aí grupos perigosos. Em 22 de março, 20 skinheads, nazistas, mataram alguém de outro bando. No dia 8 de outubro, a Polícia paulista anunciou que estava cumprindo os mandatos de busca e apreensão ─ sete meses depois. 
Terão eles se privado de participar dos quebra-quebras, fazendo o que sabem: baderna?
Segurança pública e privada
O coronel Alberto Pinheiro Neto, que chefiou as operações da PM do Rio durante as manifestações de junho, é o mais novo astro global. O ex-comandante do Bope assinou com a Rede Globo e já dirige sua segurança patrimonial e corporativa, no Rio. 
Não é o único policial que troca a segurança pública pela privada: o coronel Ferreira Pinto, ex-secretário da Segurança de São Paulo (estava no cargo durante a guerra em que o PCC matou quase cem policiais), não apenas foi contratado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para chefiar a segurança da entidade, como também se inscreveu no mesmo partido do patrão, o PMDB, para se candidatar a deputado nas eleições do ano que vem. Skaf quer ser governador.
Jogo não jogado
A aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos muda todo o quadro eleitoral para 2014 ─ o problema é saber quais serão as mudanças. Não há uma soma automática de intenções de voto de Marina e de Campos: pode haver uma redução, pode haver uma multiplicação. Quem será candidato à Presidência, quem será seu vice, Campos ou Marina? Depende: há ainda mais de seis meses para decidir. 

O que parece certo é que tanto Campos quanto Marina passaram para o campo da oposição. Em caso de segundo turno, podem receber o apoio de Aécio ou apoiá-lo, conforme o caso. É difícil que fechem com Dilma. Neste ponto, Dilma foi prejudicada; Aécio também, mas em caso de aliança no segundo turno, mesmo ficando fora, terá compensações. E ninguém se iluda acreditando que o PT marchará sossegado para a derrota. Se tudo estiver dando errado, sempre resta o trunfo máximo dos petistas: trocar Dilma por Lula. E o jogo embola de novo.
Saudades de Lula
A base governista não consegue esconder a nostalgia dos tempos que se foram. A senadora amazonense Vanessa Graziotin (PCdoB), da tribuna, discursou: “A presidente Lula (…)” Depois, percebendo o ato falho, corrigiu-se. 
Atenção, leitor, nada de maldade: Vanessa manteve o “a” e trocou “Lula” por “Dilma”.


Os voos de Ideli
A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, do PT, pré-candidata ao Governo de Santa Catarina, andou circulando pelo Estado a bordo do helicóptero do SAMU, o Serviço de Assistência Médica de Urgência. É o único helicóptero equipado para atendimento médico; e, para atender ao conforto de Sua Excelência, equipamentos como maca e tubo de oxigênio são retirados. 
Mas pelo menos a ministra cuidava, ao usar o helicóptero, de assuntos de sua pasta? Imagine! Foi inaugurar obras, participar do lançamento de projetos, entregar casas populares, assistir à formatura de bombeiros ─ aquilo que, se o PT flagrasse algum adversário fazendo, diria que era campanha eleitoral. Segundo o Ministério, o uso do helicóptero foi legal.
Claro: quem usufrui da mordomia sempre acha tudo legal.

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