JAIRO MARQUES e RAFAEL GARCIA
- Folha de São Paulo
A retirada de 178 cães da raça beagle de
um laboratório em São Roque (a 66 km de São Paulo) comprometeu experimentos
avançados de um medicamento para tratamento contra câncer --além de
fitoterápicos para usos diversos.
A informação é do médico Marcelo Marcos
Morales, um dos secretários da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
e coordenador do Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
"Um trabalho que demorou anos para
ser produzido, que tinha resultados promissores para o desenvolvimento do país,
foi jogado no lixo", disse ele, em referência à invasão do Instituto Royal
por ativistas na semana passada.
"O prejuízo é incalculável para a
ciência e para o benefício das pessoas", afirmou.
O cientista não revelou o nome do
medicamento desenvolvido, que é protegido por contrato, nem para qual tipo de
câncer ele seria usado. Mas informou que se tratava de um tipo de remédio
produzido fora do país e que teve a patente quebrada.
Avener Prado/Folhapress
Sala é encontrada com objetos revirados
no Instituto Royal, em São Roque (SP) Leia mais
O Royal também não detalha os
experimentos alegando restrição contratual.
Os fitoterápicos eram baseados em
plantas da flora nacional e poderiam ser usados, por exemplo, para combater dor
e inflamações.
Ativistas dizem que os cães sofriam
maus-tratos. O instituto nega. Ontem ele disse que, quando recuperados,
receberão tratamento e podem "ser colocados para doação".
Doutor em biofísica, Morales afirma que
os cientistas "também não querem trabalhar com animais", mas que o
método é ainda o mais eficaz para testes de tratamentos médicos e vacinas.
"Seria possível não nos
alimentarmos mais com carne? Com pesquisa é a mesma relação. Deixamos de usar
animais e vamos testar vacinas em nossas crianças?"
Para Morales, as pessoas estão
"confundindo" animais domésticos com cães que nasceram dentro de
biotérios, sob condições controladas e rígidas para o uso científico.
"O apelo do cão é muito grande,
tanto é que levaram todos os beagles, mas deixaram todos os ratos."
A autoridade brasileira responsável por
aprovar pesquisas com humanos, a Conep (Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa), não avaliza projetos de drogas que não tenham passado por testes de
segurança em animais.
Cachorros estão em uma parcela pequena
de experimentos científicos --nos quais os camundongos respondem por 74% dos
animais. A maioria dos cães é usada para averiguar a toxicidade de
medicamentos.
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Editoria de arte/Folhapress
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