Simon: baderneiros mascarados são terroristas e “bandoleiros” e devem ser reprimidos com firmeza (Foto: Geraldo Magela / Agência Senado)
O venerando senador Pedro Simon (PMDB-RS), já perto de
seus 84 anos de idade e uma das referências morais do Congresso — tão
necessitado de políticos assim — pronunciou hoje um duríssimo ataque aos
vândalos que se autodenominam “black blocs”, comparando-os aos terroristas da
Al Qaeda, chamando-os de “celerados”, de “mascarados da estupidez” e dizendo
que “reprimir a violência absurda e sem sentido do grupo bandoleiro dos Black
Blocs é um ato claro do Estado para a proteção e segurança da sociedade”.
Vale a pena conferir o discurso de Simon:
Senhor Presidente, senhoras e senhores senadores,
Imaginem a seguinte cena, por mais absurda que seja:
Uma dúzia de mascarados dos Black Blocs invade dois
aviões Boeing, decolam, sobrevoam Brasília e jogam deliberadamente os aviões
sobre dois alvos preferenciais:
Um, sobre o Congresso Nacional, símbolo do poder do
povo;
Outro, sobre o Palácio do Planalto, sede executiva do
principal governante do país.
Já imaginaram esta cena?
Pois algo parecido acaba de acontecer aqui mesmo no
Brasil, dias atrás, em São Paulo.
Na tarde de segunda-feira (28), manifestantes, muitos
deles mascarados, todos eles exaltados, decidiram protestar contra a morte de
um estudante pela polícia.
Bloquearam na capital paulista a saída norte da
Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais.
Interromperam o trânsito, invadiram os veículos
paralisados no trânsito, evacuaram os ônibus, retiraram os motoristas dos
caminhões retidos pelo movimento.
Fizeram
mais. Fizeram pior.
Queimaram cinco ônibus e três caminhões.
A cena mais terrível, contudo, ficou por conta de um
caminhão-tanque capturado pelos manifestantes.
Retiraram o motorista da cabine, tomaram o controle do
veículo, manobraram, deram marcha à ré e começaram a rodar em alta velocidade
pela rodovia paralisada.
Parecia uma travessura de criança.
Três manifestantes se penduraram no para-choque
traseiro, outros dois se agarraram à carroceria, enquanto um terceiro se
equilibrava perigosamente sobre o vagão de carga.
Outro viajava na boleia do lado direito, enquanto o
oitavo manifestante dirigia o veículo sem destino.
Era muito mais do que uma travessura.
Era uma perigosa, letal imprudência cometida a bordo
de um veículo com tanque para transporte de 30 mil litros de combustível.
Black blocks: segundo o senador, “o que mais assusta, tanto quanto a violência ativa de um bando de celerados, é a presença passiva das autoridades diante dos atos e fatos de ostensiva agressão à ordem pública e à paz das comunidades” (Foto: Gabriela Batista)
Repito: 30 mil litros de combustível.
Os mesmos 30 mil litros do caminhão-tanque de São
Paulo que rodava, desatinado, sob o controle ou o descontrole dos terroristas
que corriam, sem destino, por uma rodovia federal cercada por civis e
inocentes.
Devemos festejar que os nossos terroristas de São
Paulo não estivessem tripulando um Boeing?
É menos grave que tivessem tomado apenas um
caminhão-tanque com o mesmo potencial de morte inflamável que matou mais de
três mil pessoas em Nova York no alvorecer do século 21?
Quantas mortes, quantos incêndios, quanto vandalismo e
quanta destruição ainda precisamos aguardar para que se adotem as medidas
necessárias para conter a onda de violência crescente que domina nossas
rodovias, nossas avenidas, nossas praças, nossos noticiários de TV?
Qual a tragédia anunciada que estamos esperando, sem
fazer nada?
O que mais assusta, tanto quanto a violência ativa de
um bando de celerados, é a presença passiva das autoridades diante dos atos e
fatos de ostensiva agressão à ordem pública e à paz das comunidades.
O que dá medo, o que intriga, o que não se explica, é
a imagem de policiais e batalhões em forma, alinhados, enfileirados, apenas
assistindo aos atos de violência, depredação e destruição do patrimônio privado
e público, como se fossem meros transeuntes casualmente passando por perto.
As forças de segurança passivas disseminam a
insegurança, estimulando ainda mais violência com sua inexplicável inação.
Um país traumatizado por 21 anos de violência de um
regime autoritário parece, de repente, incapaz de discernir o que é um ato de
mera e inaceitável repressão e o que é uma atitude de justa e inatacável defesa
da ordem democrática.
Reprimir
a violência absurda e sem sentido do grupo bandoleiro dos Black Blocs é um ato
claro do Estado para a proteção e segurança da sociedade, acuada por quem só
tem a violência como argumento.
A presidente Dilma Rousseff, com a autoridade de
ex-guerrilheira que pegou em armas para lutar contra a repressão e o arbítrio
da ditadura, e que por ela foi presa e torturada, também não suporta mais a
estupidez política dos Black Blocs.
Disse a presidente Dilma nesta quarta-feira, no
Paraná:
— Antes de tudo, quero dizer que defendo manifestações
democráticas. Mas acredito que a violência dos mascarados não é democrática.
Disse mais a presidente Dilma:
— A violência é antidemocrática e tem que ser coibida.
É necessário que os órgãos responsáveis coíbam essa violência para que não haja
risco às pessoas, nem ataques ao patrimônio público e privado.
Senhoras e senhores senadores, o Brasil tomou as ruas
de forma emocionante, em junho passado, com multidões conscientes de seus
direitos.
Clamavam pacificamente por mudanças e por avanços nas
condições de vida dos brasileiros, exigindo reformas, cobrando atitudes.
Milhões foram às ruas, de cara limpa, coração leve e
consciência pura.
Quatro meses depois, as multidões sumiram, afugentadas
pelos bandoleiros mascarados dos Black Blocs.
Em junho, 90% do povo brasileiro apoiavam as
manifestações.
Hoje, esse apoio caiu para cerca de 30%.
Um brutal descrédito às manifestações de rua que é
obra, graça e desgraça da estupidez militante e da boçalidade irracional dos
Black Blocs e suas bandeiras sem causa e sem consequência.
É um movimento sem sentido sustentado pela
manifestação em si, que se propõe a atacar o capitalismo como suposto braço
avançado de uma esquerda mais participativa.
Trata-se de um bando insensato que imaginar derrubar o
sistema capitalista apenas espatifando vidraças, quebrando terminais de
agências bancárias, rompendo catracas de metrôs, incendiando ônibus.
Usam máscaras e vestem preto, achando que assim se
misturam à multidão.
Esquecem que, ao contrário dos Black Blocs, as
multidões têm cara própria e as cores vivas e múltiplas que simbolizam a
diversidade, não o comportamento militarizado e o padrão idiotizado das
milícias da violência indiscriminada.
Nesta equivocada, nesta medíocre visão política, os
mascarados da estupidez correm o risco dar um tiro no próprio pé.
A sequência de violência, cada vez mais presente nas
telas de TV e nas praças e avenidas cada vez mais esvaziadas pelas multidões
assustadas, faz aumentar o clamor por mais repressão.
Os Black Blocs, supostamente de esquerda, estão
infantilmente armando o braço da direita mais repressiva, estão reforçando os
argumentos pela volta da repressão.
Traduzindo: os Black Blocs, que dizem combater o
sistema e a polícia, acabam provocando um efeito reflexo e inverso,
fortalecendo o sistema que criticam e reforçando o apoio popular à repressão
daqueles que não representam o povo.
Os mascarados dizem pregar a desobediência civil.
Alegam que, ao protestar violentamente, querem apenas
mostrar que a polícia e o Estado não têm tanto poder quanto apregoam.
Pois o excesso de violência que exalam pode provocar o
efeito contrário: levar o povo a pedir mais força da polícia e do Estado para
preservar o espaço que a democracia lhes garante e que os Black Blocs, de forma
desastrada, impensada, lhes roubaram.
As multidões que agora se ausentam das ruas e se
protegem em suas casas da violência sem sentido dos mascarados não merecem
isso.
Na verdade, o povo merece e exige o resgate da paz
perdida e do espaço roubado à livre manifestação do povo, que é crítico mas
pacífico.
Cabe ao Estado, ao Governo Federal, às autoridades
estaduais e aos serviços de segurança, garantir ao cidadão o respeito e o
espaço que merecem numa sociedade democrática.
Sem temer o combustível de irracionalidade que ameaça
jogar jatos e caminhões-tanques sobre inocentes.
Não devemos temer a máscara dos que usam e abusam da
covardia e da violência para impor o argumento da força bruta.
Não podemos mascarar nossa inércia pelo temor de
reagir, com a força da lei e o suporte do direito, em defesa dos legítimos
interesses do povo brasileiro.
Este é o meu alerta.
Esta é minha esperança.
Muito obrigado.
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