Depois de ignorar por três anos o palco de Davos, na
Suíça, Dilma finalmente exibiu-se no Fórum Econômico Mundial. Escolheu para a estreia o
papel de mágica às avessas. Vendeu o mercado interno brasileiro com a volúpia
de uma caixeira-viajante. Referiu-se ao Brasil como uma oportunidade a
ser aproveitada por produtores de automóveis, computadores, celulares,
refrigeradores, freezers, máquinas de lavar, tevês planas, fármacos,
cosméticos…
Mal
comparando, foi como se Dilma fizesse no estrangeiro, com atraso, uma versão
oral da carta aos brasileiros –aquele documento no qual Lula, já na pele de ex-sapo-barbudo,
prometeu em 2002 não tocar fogo na economia caso fosse eleito. Cumpriu a
promessa. Agora, chefe de um governo que tirou coelhos da cartola para encobrir
índices fiscais molestos, Dilma se empenha para convencer os investidores de
que a fase da magia acabou.
Num
instante em que o tripé está manco —ninguém sabe com que meta de superávit
trabalha o governo— Dilma prometeu: “Meu governo definirá em breve a meta fiscal para o ano, consistente
com a meta de redução da dívida pública.” Numa hora em que o Banco Central
eleva os juros para deter uma inflação que teima em roçar o teto, a presidenta
deu um beijo cenográfico no óbvio: “A estabilidade da moeda é hoje um valor central do nosso país.”
Dilma deixou claro que o governo Dilma ainda é o
melhor governo que ela já viu. Falou dos investimentos, da sensibilidade
social, da prioridade à educação, da atenção dada ao ronco das ruas, da Copa
das Copas que o Brasil está organizando, disso e daquilo. Mas pela primeira vez
o autoelogio não foi o ponto central de um pronunciamento de Dilma. Dessa vez o
que mais chamou a atenção foi o ensaio de humildade que a mandachuva do Brasil
injetou nas entrelinhas do discurso.
A alturas tantas, Dilma disse que “o Brasil é hoje uma
das mais amplas fronteiras de oportunidades de negócios.” Porém, ela já
condiciona o futuro a esforços alheios à sua sacrossanta vontade: “Nosso
sucesso nos próximos anos estará associado à parceria com os investidores do
Brasil e de todo mundo.''
Autoconvertida
em porta-voz dos Brics —não se pode ser humilde o tempo todo— Dilma tachou de “apressada” a tese segundo a qual “as economias emergentes serão menos dinâmicas''
depois da crise. Acha compreensível que, sob “efeitos adversos”, as pessoas
prestem mais atenção ao curto prazo. Mas rogou: ''É preciso resgatar o
horizonte de médio e longo prazos.”
Até bem pouco, Dilma dava lições ao mundo rico. Hoje,
diz coisas assim: “Ainda que as economias desenvolvidas demonstrem claro
indício de recuperação, as economias emergentes desempenharão papel
estratégico.'' Sob o argumento de que o Brasil pode sair da crise “ainda
melhor”, ela convidou os investidores a redescobrirem o país: “Sempre recebemos
bem o investimento externo.”
Tomada pelas palavras, Dilma já não considera a
parceria com a iniciativa privada apenas desejável. Já se deu conta de que ela
é imprescindível. “O Brasil precisa, mais do que quer, da parceria com o setor
privado. E convida todos a ela.'' Na reta final do seu primeiro reinado, a
sucessora de Lula encena, meio a contragosto, uma peça original.
Dilma
tenta provar que é capaz de devolver os coelhos à cartola. Talvez não seja
suficiente. A essa altura, a presidenta talvez
precise retirar cartolas de dentro dos coelhos. Seja como for, parece claro que
há uma Dilma Rousseff diferente sobre o palco. A nova Dilma é muito parecida
com a anterior. O que a torna diferente é o esforço que empreende para enxergar
o mundo que existe do lado de fora do seu umbigo.
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