Parem de achar que “reacionário” é ofensa. Progressistas estão tremendo diante da "moda reaça" - mas nada está mais na moda do que ser anti-reaça. Só há um problema: nenhum progressista sabe o que ser "reacionário" significa.

Por Flávio Morgenstern - IMPLICANTE
Gregório Duvivier escreveu nesta semana um artigo na Folha chamado “Moda Reaça”, explicando como deve ser o vestuário dos “reacionários”. Segundo Duvivier, o vestuário reaça é farda verde-oliva do vovô com manchas de sangue, e é preciso ser branco, heterossexual, católico e rico para ser “reaça”.
Por sorte, a Folha explica que Gregório Duvivier merece nos brindar com suas imprescindíveis opiniões por criar o canal de “humor” Porta dos Fundos.
Eu sou especialista em cultura trash, vi todas as temporadas de Beavis & Butt-Head, fiz minha formação moral com Chiclete com Banana, estudo e anoto todos os palavrões que possa aprender com Californication, Angry Video Game Nerd e Olavo Pascucci. Mas eu nunca sei o que são essas coisas como “Porta dos Fundos”, “Malhação”, revista “Contigo” ou artigo do Vladimir Safatle. Isso não é cultura junkie, é o rebotalho da decadência, é platitude para as massas abobalhadas, é palpitaria de shopping, é revolta a favor, é Danoninho pra marmanjo com síndrome de Peter Pan no DCE.
Felizmente a Folha ao menos nos explica por que estamos enfrentando a opinião de alguém tão nitidamente inábil para lidar com o objeto de seu texto. Basta criar um portal de “humor”, o Zorra Total do Youtube, os Teletubbies para gente crescida e voilà, eis a sua coluna semanal na Folha.
De acordo com Gregório Duvivier, a moda “reaça” que descreve é “o último grito do outono fascistão”. O “reaça” é um cara que “se algum viado der em cima dele, ele atira na testa”, mas “transa com travesti” e depois “enche a bicha (sic) de porrada”. É alguém que freqüenta igreja de padre “homofóbico e racista”. A mulher reaça é a que critica periguetes, e quer proibir gorda de sair na rua.
Todos são saudosistas da ditadura e fazem encontro no DOI-Codi – aquele lugar que hoje abriga um memorial da ditadura, por onde Yoani Sánchez passou logo após ser achincalhada por saudosistas da ditadura totalitária cubana, dessa vez sem ser agredida por nenhum jovem “revoluça”, já que ficaria ridículo tentar associar a blogueira dissidente cubana ao mal, quando ela critica todas as ditaduras – e não apenas a menos pior delas. Segundo Gregório Duvivier, o “reaça” anda sempre com soco inglês por aí.
Chegaria a ser engraçado (pela primeira vez na vida de Gregório Duvivier, que nunca conseguiu fazer gente muito inteligente rir) imaginar que ele sabe do que está falando, ao invés de misturar uma carrada de clichês que, ironicamente, estão mais em moda agora do que em 68 – falta pouco pra ele e sua turma se considerarem “proletários”, já que o “sindicato” está cada vez mais sendo trocado pelo poder direto do Estado, com seus Marcos Civis e leis criando privilégios específicos a uns nomeados às custas dos outros.
A moda, na verdade, é chamar tudo o que não atenda à sua exigência de pensamento único de “reaça”. Nada é mais modinha do que isso – sobretudo, na falta de encontrar um “ismo” pra chamar de seu, simplesmente se consideram “progressistas”, já que o Grande Ismo, a ideologia do comunismo – que chamava tudo o que não fosse comunista, justamente, de “ideologia” – saiu de moda, mesmo entre aqueles que não sabem o horror supremo que é Stalin, Holodomor, kolkhoz ou o Gulag. Basta agora ser “de esquerda”.
Na prática, defendendo o mesmo que Mao Zedong em sua Revolução Cultural ou Nicolae Ceaușescu e Kim Il-sung com o “socialismo Juche”, ou Walter Ulbricht com o Muro de Berlim (o “muro antifascista”).
A técnica é simples, qualquer adolescente pereba com preguiça de ler livros de mil páginas sobre esses países distantes consegue aprender: basta chamar aquilo que não for “progressista” e aderente ao pensamento único do Partido no poder de “reaça”, e com toda a sorte de contradições, associar tudo aquilo que for ruim ao “reacionário”: fascismo, racismo, ditadura, homofobia, soco inglês (como se sabe, só comprado por senhoras católicas na Galeria do Rock, nunca por punks black blocs ou invasores de reitoria da USP).
Reacionários, para quem estuda e pesquisa antes de vomitar achismos e opiniões inventadas de estro próprio por aí, são o exato oposto de tudo isso. Os reacionários são aqueles que, ao ver um problema social, desconfiam da solução “revolucionária” de plantão (aumentar o poder do Estado para que ele corrija/proíba/financie) e, imaginando como as coisas reagem, se posicionam contra a concentração de poder nas mãos de uns poucos bem-iluminados que, supostamente, podem “corrigir” o problema. Reacionários são os caras que desconfiam de políticos. Continue a leitura aqui

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