Médico 'expulso' do SUS relata em livro seu dia a dia na rede: Conheci o "INFERNO DE DANTE".

Daniel Marenco/Folhapress
O cirurgião torácico Marcio Maranhão, 44, no Rio
O cirurgião torácico Marcio Maranhão, 44, no Rio

FOLHA DE SÃO PAULO


DIANA BRITO - RIO

"Costumo dizer que eu não desisti do sistema de saúde pública, ele é que desistiu de mim. Fui rejeitado, expelido, praticamente expulso", diz o médico carioca Marcio Maranhão, 44, cirurgião torácico.

Sua "expulsão" aconteceu depois de 15 anos de trabalho em hospitais municipais e estaduais do Rio, que corroeram seu idealismo juvenil com a profissão.
Os episódios mais traumáticos que o levaram a desistir do sistema estão narrados no livro "Sob Pressão - A Rotina de Guerra de Um Médico Brasileiro" (ed. Foz), que será lançado no próximo dia 17.

Carioca da Gávea, na rica zona sul, Maranhão formou-se na Uerj (Universidade do Estado do Rio) em 1994 e fez cinco anos de residência em diferentes hospitais públicos, buscando exercer a "medicina plena, social" com a intenção de retribuir a educação gratuita que recebera.

Ainda como residente, conheceu o que chama de "inferno de Dante" no hospital municipal Souza Aguiar, o maior do Rio para emergências. "Era 1996, pessoas cobriam o chão, disputavam bancos, gemiam sobre macas de ferro", conta no livro.


"Muitas vezes precisei dissecar uma veia no chão, quando não havia centro-cirúrgico nem leito disponível. Em situações de extrema urgência, não era raro fazer pequenas cirurgias sobre macas frias, em bancadas de pia ou até mesmo no chão", relata.
Um "truque" que lançava mão com frequência era usar macas do necrotério, ao lado do Souza Aguiar.

No hospital da Posse, à época uma unidade federal, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o cirurgião afirma que presenciou uma das emergências mais caóticas.


Ao abrir a cortina de um leito, encontrou um cachorro de rua ali com um potinho de comida –havia sido acolhido por um profissional da limpeza. "Na época eu era estagiário. Achei essa cena emblemática", disse.

Entrou no Sistema Único de Saúde (SUS) por concurso público, em 2001, com um salário de R$ 1.247 para uma jornada de 20 horas semanais.
Nos nove anos em que ficou no sistema, teve apenas um aumento, de R$ 100 –"Uma afronta", diz. A criação de cargos médicos terceirizados com salários quatro vezes maiores o deixava "indignado".
"Mas não foi só o salário que contribuiu. Não ter o que oferecer para o doente é muito angustiante e, ao mesmo tempo, te coloca em armadilhas. À beira do leito sem recurso, o paciente corre risco de morte e o médico, de ser imprudente", afirma.

CENÁRIO DE GUERRA
A vontade de trabalhar também fora dos hospitais, "praticar a medicina 'in loco', conhecer a doença do ponto de vista social", o levou a aceitar o pouco disputado cargo de plantonista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Continue a leitura aqui

3 comentários:

Anônimo disse...

A SAÚDE, ESTA MORRENDO, E TODOS SOFREMOS, OS MÉDICOS E PACIENTES NÃO SABEM MAIS OQUE FAZER, A SITUAÇÃO É CRITICA, QUEM DEVERIA CUIDAR ESTÃO APENAS PENSANDO EM SI MESMOS, INFELIZMENTE, DÁ VERGONHA DE MUITA COISA NESSE BRASIL.

Anônimo disse...

Após o relato deste médico só me resta gritar:

Ei, Lula, VAI TOMAR NO SUS!!!!!!!!

Anônimo disse...

A gritaria é igual para todos, portanto:

Ei, Dilma, VAI TOMAR NO SUS!!!!!!!!!!!!!