Lula quando se refere a qualquer ladrão, fala sempre de si próprio: Lula doou a BR Distribuidora ao mesmo Collor que acusou de ladrão e débil mental.


Em 1993, pouco depois do impeachment de Fernando Collor, o radialista Milton Neves quis saber o que Lula achava do adversário escorraçado do gabinete presidencial por ter feito o que a seita petista faria anos depois em escala industrial. “Você tem pena de Fernando Affonso Collor de Mello?”, pergunta o entrevistador no começo do áudio hoje transformado numa peça essencial para os estudiosos da Era da Canalhice. Ouça a resposta de Lula.
O chefão do PT vinha rascunhando o diagnóstico desde a campanha presidencial de 1989, quando acusou de “corrupto” o inimigo que acabaria por derrotá-lo nas urnas. “Isso é uma tremenda maracutaia”, berrou Lula no ano seguinte, ao saber que o presidente da República tentara favorecer um empresário amigo com dinheiro desviado da Petrobras. A negociata gorou, mas logo se constatou que havia ali um caso sem cura. Enquanto Fernando Collor percorria o atalho que o devolveria à planície, Lula seguia tateando a estrada certa para o Planalto.
Finalmente vitorioso em 2002, ele chegou lá em 2003. Quatro anos mais tarde, o homem despejado da Presidência por ter desonrado o cargo voltou à Praça dos Três Poderes, agora como senador por Alagoas filiado ao PTB. Em 2009, os antagonistas que viviam trocando chumbo passaram a trocar elogios que pavimentaram o caminho da reconciliação. Logo descobriram que haviam nascido um para o outro. Viraram amigos de infância. Além de comparsas, confirmam descobertas recentes da Operação Lava Jato.
Aparentemente impossível, a parceria nada tem de ilógica. Vista de perto, a dupla tem almas gêmeas. Escancarado pela grossura explícita, o primitivismo de Lula aparece claramente por trás do falso refinamento de Collor. Escancarado pela arrogância de oligarca, o autoritarismo de Collor é perfeitamente visível por trás do paternalismo populista de Lula. Os dois são, em sua essência, primitivos e autoritários. Ambos também acham que os fins justificam os meios. E, como atestam revelações recentes, acham que demonstrações de amizade devem incluir barganhas extraordinariamente lucrativas ─ tudo por conta dos pagadores de impostos.
Já em 2009, Lula expressou seu contentamento com a conversão de Collor: premiou a “lealdade” do representante de Alagoas com duas diretorias da BR Distribuidora, uma das mais cobiçadas subsidiárias da Petrobras. Em dezembro, na denúncia enviada ao STF contra o deputado Vander Loubert (PTB-AL), o procurador-geral Rodrigo Janot resumiu a bandalheira no trecho abaixo reproduzido:
“Após o fim do período de suspensão de direitos políticos, Fernando Affonso Collor de Mello retornou à vida pública. Na condição de senador pelo Partido Trabalhista Brasileiro do Estado de Alagoas (PTB-MS), por volta do ano de 2009, em troca de apoio político à base governista no Congresso Nacional, obteve do então Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, ascendência sobre a Petrobras Distribuidora- BR Distribuidora”.
Quando Dilma Rousseff assumiu a chefia do governo, o padrinho já havia doado ao senador quase todo o latifúndio ─ uns poucos lotes foram reservados ao PT. Como sempre, o poste escorou o serviço sujo do fabricante. No depoimento prestado à Procuradoria Geral da República, Nestor Cerveró, um dos pajés do Petrolão, confirmou que a afilhada endossou a obscenidade: “Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a Presidente da República, Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor de Mello a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora”, revelou Cerveró.
As escavações nessas promissoras catacumbas estão ainda em seu começo. Vem muito mais por aí. O que já se sabe é suficiente, contudo, para reiterar que o Brasil, como ensinou Tom Jobim, não é mesmo para amadores. No tempo dos tiroteios entre Lula e Collor, o país inteiro apostou que os dois pistoleiros jamais seriam vistos do mesmo lado. Acabaram juntos para sempre no saloon do Petrolão.

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