O BRASIL SABE FAZER UMA FESTA ANIMADA. O QUE NÃO SABE FAZER É UM PAÍS DECENTE!




Fonte: GLOBO
Não vi a abertura toda da Olimpíada, pois por algum motivo estranho a NBC resolveu transmitir com atraso para os Estados Unidos. Mas o que vi, achei bonito. Fico aliviado por ter dado tudo certo. Dou até um desconto pela parte do proselitismo ideológico, pelo “aquecimento global” (quem ainda acredita nisso?), pelos indiozinhos, pelo funk e até pela Regina Casé glamourizando as favelas.
A festa foi bonita e animada, apesar de ver alguns exageros por aí na reação (“a mais linda do planeta, quiçá da galáxia”). Gisele Bundchen super animada e linda. Guga, um cara do bem, emocionado. Vanderlei acendendo a pira foi o ponto alto. Tudo bem legal. Ou quase tudo.

Houve o lado cafona e jeca, politicamente correto, com as “minorias empoderadas”. O esquecimento dos imigrantes italianos e de São Paulo, que carrega a economia nas costas, foi imperdoável. Ainda assim, uma bela festa. Só que não posso me calar diante do ufanismo que ela produziu, mesmo que perca alguns leitores por isso.

Sinto muito ser o estraga-prazeres tão cedo assim, mas é que o brasileiro continua otário! A turma afetada que fala “chupa seu vira-lata!” e que celebra a espetada nos “estadunidenses imperialistas” com o 14-Bis não entende que a idiotice vem justamente de achar que tudo é uma maravilha só porque fizemos um belo e animado espetáculo. O que importa é o “day after”, gente, a dura realidade depois da festa.

A violência continua matando mais que guerra civil, o trânsito idem, a burocracia ainda é asfixiante, os impostos escorchantes, os políticos corruptos, a “educação” um lixo, a saúde pública um caos etc. Lamento informar, mas o custo de nossa malandragem ainda é altíssimo, a começar pelo da própria festa: R$ 270 milhões! E a reação dos ufanistas, que agora têm o maior orgulho do mundo por ser brasileiro, é só mais uma evidência de como somos bem otários mesmo. Um leitor escreveu:

A Brasucada beira a infantilidade, se a festa for bonita não importa o quanto vamos pagar. É bem o espírito do Brasuca que sai do país e volta entulhado de quinquilharias só porque lá fora é mais barato. Falta muita educação para um povo que só pensa em festa. Essa conta vai tirar o couro da classe pagadora de impostos e expor os pobres ainda mais à pobreza.
Os que estão morrendo de orgulho de ser brasileiro deveriam refletir sobre o que é motivo de orgulho para uma nação. Terei algum orgulho do Brasil no dia em que ganharmos ao menos um Prêmio Nobel. E não vale o da paz, que até terrorista já ganhou. Tem que ser de física ou química. Unzinho só para contar história, já que até los hermanos conseguiram essa façanha…

Sim, sabemos fazer uma boa festa. Mas esse nunca foi nosso problema. Ou, por outra: esse é justamente o nosso problema! Sabemos farrear. Somos cigarras que adoramos o Pão & Circo. O que NÃO sabemos fazer direito são escolas, hospitais, vias seguras e governos limitados. Eis o problema. Um leitor resumiu bem: “É a velha metodologia brasileira de uma grande parte da população com a cultura de mostrar que ‘vive bem’ e deixando as contas atrasarem!”

Não me levem a mal. Sei que o homem, especialmente o brasileiro, precisa de um entorpecente de vez em quando. Eu mesmo prestei homenagens a Baco ontem. Uma breve fuga da dura realidade se faz necessária para alimentar a esperança, a última que morre. Mas que seja breve. Pois o realismo também é fundamental, sob o risco de ficarmos aprisionados na fuga, tomando ficção por realidade e vice-versa. Não dá para manter uma euforia perpétua com base em estímulos artificiais. A ressaca inexoravelmente chega…

Sim, vamos aproveitar a Olimpíada, tentar resgatar seu espírito de “fair play”, de meritocracia, de convivência pacífica. Sim, vamos festejar o clima olímpico e elogiar a festa de abertura. Mas deixando o ufanismo boboca de lado, que é tão ridículo quanto o complexo de vira-lata e o derrotismo. É preciso um equilíbrio aqui, como defendo no meu livro novo sobre nosso jeitinho e o alto custo da malandragem. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

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