A santinha da floresta oca

Marina Silva, a inimputável, está revelando, na disputa política, mais do que uma estratégia de campanha: está revelando um caráter.

Quando ficou claro que a máquina da Receita tinha sido mobilizada para escarafunchar a vida de tucanos — inclusive de familiares de José Serra —, a candidata verde resolveu demonstrar a sua indignação de um modo muito peculiar: censurou os desmandos do governo, mas acusou o tucano de fazer exploração política do caso. Jamais admitiu que se tratava de uma invasão dirigida de sigilo — insistia nos “milhares de casos”. Vale dizer: Marina diluía o crime político, o que era, obviamente, do interesse do governo Lula, quisesse ela ou não. E, curiosamente, tentou ser a monopolista da crítica. Serra, porque vítima do esquema, teria menos legitimidade do que ela para protestar. Ele faria exploração política; ela não.

Hoje, Marina veio a público para acusar, pasmem!, tanto Lula como Serra de perseguir a imprensa. E o fez, segundo relato da Folha Online, nestes termos:

“Defendo a liberdade de imprensa e acho que temos que primar por uma cobertura que seja isenta, que coloque os fatos para que cada cidadão forme a sua opinião. Não deve ter nenhum tipo de censura para que as pessoas possam ter acesso aos acontecimentos. Agora, existem duas formas de tentar intimidar a imprensa, uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. E outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, que dá na mesma coisa. O respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule e estar sempre atento para que circule com critério ético e de Justiça.”

Os jornalistas, claro!, quiseram saber de quem ela estava falando. E ela mandou brasa:
“Olha, vocês têm reclamado muito de que o governador Serra, nos últimos dias, tem ficado nervoso quando fazem alguma pergunta que ele não gosta. Eu tenho visto relatos de pessoas que cobram as campanhas, de que existem momentos, quando são feitas perguntas que não consideradas agradáveis, há uma atitude, às vezes, de intimidação dos jornalistas. Eu ouço esses relatos”.

Ajudando o PT
Mais uma vez, temos Marina, na prática, ajudando o PT. Por quê? Porque iguala desigualdades. Marina deveria ter ela própria a responsabilidade que defende para os outros. A senadora não teria como dizer os nomes dos jornalistas que tiveram a “cabeça” pedida porque isso é conversa mole, que circula na rede a soldo da Internet.

O candidato tucano já se estranhou com esse ou com aquele jornalistas? E daí? Isso nada tem a ver com intimidação institucional. Ademais, quando isso ocorre, ele é o único prejudicado. E a liberdade de imprensa fica onde sempre esteve.

Com o PT é diferente. O partido se mobilizou e se mobiliza para criar ENTRAVES LEGAIS ao exercício do jornalismo. Marina faz a sua releitura do poema “O cazar naturalista”, de Drummond. Aquele matava homens e achou um absurdo quando ficou sabendo que se matavam borboletas. Marina é do tipo que acha absurdos equivalentes matar homens e borboletas. Ao elevar o eventual conflito pessoal, episódico, à categoria de questão política, transforma o que é uma questão política em mero conflito pessoal.

Lula não se limitou a “colocar uma série de críticas de forma infeliz”. Isso pode ser feito por qualquer um. Foi além disso: seu governo se mobilizou e se mobiliza para controlar os meios de comunicação, dona Marina Silva!

Marina tem todo o direito de fazer política e de ficar, desde já, fcuidando do recall para 2014, 2018, sei lá eu, com a sua chamada “terceira via”. Mas deveria ser mais responsável nessa matéria. Ela, sim, está transformando a questão da liberdade de imprensa em mera guerrilha eleitoral. Está menos preocupada com os episódios em si do que em atacar os dois adversários para se dizer “a terceira via”.

Mas, vocês sabem, ela o faz com aquele ar beato de quem viu “a coisa” na floresta. Não dá! É a santinha da floresta oca!

PS - Muitos me indagam: “Se houver segundo turno, o que você acha que Marina vai fazer? Não tenho a menor idéia. A julgar pela batida em que ela vem, deve declarar neutralidade, já que parece tão acima da “vulgaridade” de seus adversários, que ainda não descobriram as verdades dos Na’vis de Pandora. Esse papo obscurantista já passou da conta!

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